24 June 2009

Carta nº X

Querido,

Já faz tempo que não te escrevo, não!, digo, realmente, escrever.
É que por aqui as coisas são sempre as mesmas, você sabe, ou talvez não. Espero que esta te alcance, pois sei que não é de seu hábito manter longa estadia em lugar algum.
Você está longe, mas ainda é o seu sorriso que inspira minhas noites insones. Sete, uma para cada dia da semana, para cada uma das tuas cores que estão todas dentro de mim. Minha voz já não é a mesma, você não a reconheceria se pudesse escutar, às vezes penso que todos os meus sonhos não passaram de enganos, e às vezes, mas só às vezes, tenho vontade de me enterrar num trivial sem futilidades.

Por onde correm teus olhos nestes dias tão longos? Vê que já não conto o tempo, nem preciso fazê-lo para saber que se arrasta. Meu tempo sempre se arrasta e me dá a impressão de viver o mesmo tempo desde o início da consciência. Mas os instantes são breves, não é? Embora os dias sejam lentos, seus instantes são breves.

Tenho pena, tanta pena dos olhares jovens que encontro! Porque os jovens são facilmente explorados...Todos os jovens podiam ser artistas de nada. E eu arrasto rugas que o tempo ainda não me deu, tenho os ombros corcundas de carregar o marasmo.

Queria te ver. Já nem sei o que é do teu rosto sempre tão turvo, e me esqueço em teus dedos inábeis para o destino. Ou me engano, acaso não é você meu destino, vai ver destino é apenas mais uma distância, nota que as duas coisas se parecem, "todas as coisas se parecem", você dirá sem se parecer com nada.

Cruel você, mas eu também o sou. Estou só desde o primeiro dia em cheguei acompanhada de uma paixão que me tomou, me sufocou, dizimou e se mostrou não pertencer a mim.
Sabe, pouco me aguento em cronologias, há um monte de complexos no meu colchão, talvez devesse trocá-los por um livro que os pudesse explicar, que acha?

Quero olhos nas minhas paredes, no meu espelho, mas que olhos me quereriam avistar? Tenho saudades que só se entendem em linhas de poesia e em mudas canções inacabadas. Existem coisas em mim que só se resumem na falta de. Parece bobagem, mas a distância percorrida pelos pés me assusta, tenho vergonha deles. Dos meus e dos seus.
Estou cansada de sentir medo, vergonha. Vai saber o dia não se resolve apático.

M.

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