01 June 2010

Bandeira

Finzinho de outono sempre bate aquela nostalgia gostosa, e burra, de sentir falta de quase tudo que passou (minha memória sempre foi seletiva, basicamente lembro do quero, o que foi bom, de coisa ruim eu quero distância!).
O friozinho leve traz aqueles arrepios que parecem tanto com paixão nova, a vontade de se aninhar no outro e incendiar a rotina. De cometer as loucuras de quando a idade deixava e a vergonha não era algo que incomodava.

Acho que vivo sempre meio no passada, flutuando nas coisas que foram e ficaram por ser. O que deu certo a vontade é reviver até exaurir. Os dias de sol, as noites não-tão-frias, as danças, as músicas, as mãos, os bilhetes em guardanapos...
O que deu errado, de resolver e deixar a folha em branco, sem mais manchas, porque o importante, pelo menos agora, não foi a dor que causou, mas a cicatriz que lateja de vez em quando e não se deixa esquecer das feridas antigas.
E do que não foi fica o sonho do que poderia ter sido, a paixão guardada, os sonhos, os suspiros, as lembranças e a eternidade na nossa cabeça.

É isso, essa nostalgia é aquilo que sempre faltou, e que quando não faltou foi rápido demais. É a falta do que nunca soube ser. Essas partes de mim que foram deixadas em alguns cantos, e que algumas coisas tem o poder de trazer em voga. Marcela e suas excentricidades, a intensidade, a teimosia, as paixões perversas, o desejo, a auto-destruição. Eu gostava dela, alcançava o que eu desisti.

Antes eu precisava de algo visual pra desencadear lembranças - fotos, ou ver alguém em algum lugar. Agora que esses ganchos visuais estão longe - não mais tenho fotos onde moro, estou no meu presente e ele me pediu pra deixar o passado, como se isso fosse possível - são poucas coisas que trazem essa nostalgia gostosa, uma música que fica na minha cabeça por dias, um sonho. Um fim-de-tarde, ou um domingo de sol. Sério, domingos. Ou um programa de TV em determinado horário - e eu nem vejo mais TV.

Aí passa, tudo passa. Mas como diz o Caio, alguma coisa sempre faz falta.
Não pretendo nada, mas essa é a fuga que me permito ter, voltar pra dentro de mim.

"Guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo."

"A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pêlos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções"


ps.: Caio Fernando Abreu é foda. Foda.