29 March 2007

Mensagens cifradas à Alfa-Ômega

... em algum lugar existiu, e ainda existe, My Sweet Devil.

Posso falar? Às vezes lembro, e s vezes sinto saudade. Na verdade a saudade vem toda vez que lembro, porque das coisas ruins que aconteceram conosco, não guardei muita coisa. Só um restinho do veneno, como uma espécie de vacina.
Mas não era disso que eu queria falar.
Saudades, das coisas boas.
Das nossas fotos sinceras. Temos poucas fotos juntos, mas em quase todas eu estava verdadeiramente feliz.
Saudades.Do modo como lembro da gente, se atacando para se defender. Caçando um ao outro, selvageria. O Lobo e a Raposa. Nossos pesadelos acordados, nossas mãos dadas pela noite.
Lembro e sinto falta, era puro mesmo quando corrompido.
Não que sinto falta no sentido de querer novamente, mas do modo como deixamos. Ali, assassinado, sangrando, até se esgotar.

Posso falar? Resumindo tudo posso dizer: foi bom. Nossas indas e vindas, os meus, os seus e os nossos pecados, nossas pervesões, pervesidades. Mas não aquela sensação do meu coração nos seus dentes, sendo estraçalhado cada vez que outros lábios, outros sexos você provava. De como um "te amo" era sofrido de falar, escutar. De como nunca haviam braços para me abraçar, e assim tive que aprender a me esquentar só. Do vazio, da espera, do nunca. "Não posso, não quero, não sinto, não toque, não coma." Sempre. As mentiras, penitências, transgressões, agressões físicas.
Disso tudo só ficou o aprendizado.

Acho que ainda deve existir na sua pele as marcas que deixei, de maldade, para provar para todas suas outras putas que, mesmo não permanecendo, estive ali. Sim, era por prazer, mas principalmente por orgulho e crueldade que eu marcava suas costas, seu peito, suas coxas.
Ainda tenho as suas marcas na minha pele, e tenho certeza que foram feitas com o mesmo intuito.

Os olhos. Negros, muito muito muito negros, o que eu amava incondicionalmente em você eram seus olhos, que se mantinham puros, que escondiam o garoto que eu amava. Sim, eu te amei, mais do que a mim mesma. Mas foi aquele garoto que temia quem mais amei. Medo de se machucar, se entregar. Foi esse garoto que fez eu me jogar do abismo, atravessar sua escuridão, enfrentar seus demônios, me entregar. Não o homem que queria me mudar, manipular para suas vontades.
Você.

Ainda tenho suas palavras guardadas. Aquelas em guardanapos dos bares que frequentavamos, que se referiam às minhas coxas brancas, aos meus olhos verdes, ao meu amor cego e burro. Sim.
Por que? Porque essas coisas não são levadas com as águas do tempo. Lhe avisei que seria para sempre.
"Por mais que a vida seja complexa em alguns momentos somos apenas animais que procuram sua caça, mas não se sabe quem é o caçador ou a caça. Mas na verdade todos somos caça e caçador, dominamos e somos dominados, pelos nossos instintos animais.
Ainda morderei como o lobo que sou, como um demônio que tento me tornar, como o garoto triste que você vê, como o nada que você procura, como a dor e calor da presa quando é esquartejada para alimentar seu ímpetuo de morte. "


Mas sabe, Não há fim, Não há início. Há apenas a infinita paixão da vida.
Por isso, às vezes, eu lembro. E, às vezes, sinto saudades.





(um dia você falou: "grite para todos os deuses dos ventos , que eu não estarei lá para escutar." My devil, eu sempre fiz isso, e sempre farei, e não quero mais saber de raiva, ódio, ou mágoa, agora viu cristal.)

17 March 2007

Sensação terrível, e nem gostaria de nomeá-la, sob o risco de torná-la ainda mais palpável, real.
Silêncio velado, gritos mudos, a boca seca. Sede.
Entregaria o leme da minha vida nas suas mãos. Cansei de tentar manter algo que pareça coerente, em linha reta.
Quero bater contra a parede e sentir a sensação do sangue escorrendo até os lábios; metálico e salgado.
Cheiro de flores no meu pescoço, cheiro de polvóra nos meus dedos, hálito de enxofre. Ácido, básico, neutro. Deslizando.
Puxando a cadeira, fazendo sexo, dançando no palco, beijando bocas, estraçalhando corações: parece já um século.
Menos é menos, que multiplicando pode se tornar mais de algum modo que não lembro como. Devoro.
Furem meus tímpanos, estuprem meu gosto, eu gosto de selvageria.
Rasgo sua camisa vermelha, rasgo sua pele branca até se tornar vermelha. Pronto, para que uma camisa?
Coloco fogo no seu jeans predileto usando seu perfume. Quase posso vê-lo queimando, você dentro.
Morda minhas coxas até sangrar, deixe marcas roxas por todo meu corpo: heis meu troféu.
Sorria, eu só estou na beira da loucura, ainda não cheguei lá...

06 March 2007

A última carta para alguém distante


Olá querido, quanto tempo, saudades;

As coisas andam se movimentando. Mas acabei voltando para um pedaço do passado onde encontrei sua lembrança. Sempre se sabe quando na verdade as coisas na vida não são para dar certo. Ou certas coisas. Mas queria imensamente que dessem. Ver essas coisas se degradando aos poucos sem poder fazer muita coisa - o que fazer em caso de mortes prematuras, onde já se sabia o que iria acontecer?

Morreu, há tempos. Na verdade nem deveria ter nascido, não como nasceu: prematura e orfã, coitada. Lembro dela roxa na incubadora, e das minhas esperança que dessa vez, talvez, não morresse; porque isso sempre dói demais. Lembro do seu descaso e das poucas vezes que você se atreveu a olhar para ela: aquela paixão frágil, que tentei proteger na palma das minhas mãos, o medo estampado nos teus olhos.

Não há motivos, mas há a vontade. De chorar, ser consolada. Não há ombros, não existem mãos estendidas. Mas disso também já deveria saber, se acostumar. De tantos ferimentos ainda há espaço para mais alguns. Cicatrizes que endurecem o coração, que já parece uma colcha velha de retalhos que ninguém mais quer, nem os necessitados. Pensei em comprar um novo, daqueles de plástico, transparentes, última geração, frios. Talvez com um desses da próxima vez ninguém consiga se aproximar o bastante para que dali nasça alguma coisa nati-morta.

Sim querido, depois de ti houveram outros, há ainda. Sim querido, continua machucando. Sim, continua sangrando. Sempre. Mesmo de longe você me conhece o bastante para saber dessa minha habilidade de escolher a dedo as melhores formas e os piores conteúdos; as melhores palavras e as piores intenções. Oh sim, continuo afundanda no drama, na inconsistência, nas esperanças, nos sonhos não-compartilhados, no medo, medo, medo. Sim meu eterno, nada mudou depois de ti, apenas você mesmo.

Posso falar a verdade agora? Nada é como falei. Ainda sou dada a esses pequenos desvios da verdade, para depois entregar minhas mentiras em busca de uma punição que julgo necessária. Ainda continuo sendo a pecadora que se apaixonou pelas penitências, e que sempre peca para ser castigada. As coisas mudaram, você já desbotou de mim, de dentro de mim e agora permanece latente. Agora há algo muito mais forte e denso. Uma paixão na incubadora lutando para não morrer também, e dessa vez gostaria tanto que não morresse... Mas que igualmente machuca e magoa, pisa e destrata, para depois cuidar e se desculpar. Mode e assopra. Estamos na UTI, mas ela continua a se debater, a gritar e depois calar. Entra em frênesi, depois volta ao coma. Melhora, dá uma volta lá fora e decaí.
Sim, nesse teatro em que você saiu de cena mudaram os personagens, mas nunca o enredo.

Beijos, cuide-se, agasalhe-se. O inverno pode estar acabando, mas o frio vem de dentro.
Saudades, mas não apareça mais.

Da não mais sua,
Marian.