31 March 2008

Cada dia mais boba e apaixonada.
Aprendendo e prendendo dentro de mim até o fim.



Dionisios Ares Afrodite

aos deuses mais cruéis
juventude eterna

eles nos dão de beber
na mesma taça
o vinho, o sangue e o esperma

paulo leminski

11 March 2008

Inferno Astral nosso de cada dia

Odeio meu inferno astral - odeio ficar mais velha!

Sabe, eu não tenho mais 15 anos para ficar pensando o que vou fazer da minha vida - tenho quase 25 e ainda não sei o que fazer da minha vida. Talvez voltar para São Paulo, se ele for comigo. Talvez ganhar na mega-sena, se eu decidisse jogar. Essas coisas que não consigo decidir. Também não tenho trinta e poucos, casa, marido e filhos para reclamar. Não dá nem para ser um meio termo. Pelo menos ainda odeio meio-termos.

Tenho a porra da minha memória que parece ser de elefante, na verdade uma elefanta branca grávida, cúspindo coisas o tempo todo. Pior que mal me lembro de algumas que fiz há 5 minutos atrás, mas 5 anos atrás são extremamente nítidos, com sons, cheiros e sensações. Daí fico nessa nostalgia sem sentido. Cu. Odeio sentir isso e não poder fazer nada além de esperar passar.

Queria saber onde eu me abandonei. Eu não era assim, ou então fui abduzida, sequestrada, estuprada. Eu gostava de dançar, hoje nem tento mais. Eu gostava de gritar, hoje mal falo. Bebia, fumava, saia, não voltava, não dava explicação, morria de medo. Hoje para me tirar de casa é um sofrimento. Quando saio mau bebo, mau fumo, sempre volto, e aviso. Hoje não tenho medo. Isso só pode ser velhice precoce. E nem reclamar mais eu sei direito! hahaha

É bom perceber que acalmei, que não estou mais desesperada atrás de - sei lá o que. Aprovação. Amor. Amizade. Carinho. Atenção. Paixão. Fogo. Perigo. Prazer. Dor. Dor. Dor.
Por outro lado, não não não, não pode ser eu ainda, sempre achei rídiculo sossegar. E eu sosseguei.

Não sei se a estrada está livre, o sinal está vermelho ou se simplesmente enguiçou.
As coisas mudaram muito desde que me mudei, e voltei. Lembro da terrível solidão de São Paulo e das coisas que ficavam sem sentido. A vontade de me jogar na linha do metrô porque ninguém ia perceber, era milhares de pessoas que só iam reparar quando, e se, esguichasse sangue em suas caras. Lembro de quão díficil foi voltar para cá e largar o que conquistei lá, sozinha. De que voltar era pedir para morrer sem querer me jogar do 12º andar, ou de voltar bêbada para casa, de madrugada, durante um ataque do PCC. Voltar debaixo de chuva, parar no boteco e beber com os italianões da Mooca. Faz séculos que não tenho dor de cotovelo, acho que sarou.

Olhando isso tudo, vejo que estou me repetindo.

Saudade é um estado absoluto na minha condição, sempre sentindo saudade, mas querendo-não-querendo voltar ao passado. Mas no presente tem ele e eu não vou a lugar nenhum sem ele.

Daí o passado fica sendo apenas essa coisa engraçadinha que eu vivi, mas que não quero mais viver. Ou quero. Mas não quero. Quero. Não. Sei lá.

Rá, talvez eu não tenha mudado tanto ainda. Talvez a antiga Marcela ainda esteja aqui. Ou não.

25 anos é coisa para caralho, mas ainda não é nada. E eu sou uma velha presa morrendo de raiva por não ter aproveitado o que aproveitei - ainda adoro ser prolixa, sushi, amor, presentes, preto, cachoeira, praia. Talvez eu ainda seja eu.