15 February 2007

Dessas coisas que não se explicam. Dessas coisas que não tem porquê.
Dessas coisas inerentes à condição atual. Não pode existir melancolia em meio à felicidade?
Ou total insegurança à estabilidade?
Bobeira. Ou talvez não.
Cada vez mais parece não ser. Mas não se pode falar, pois tudo parecer estar sempre distorcido. Já não se sabe o que o que é realidade, o que deixa de ser, o que foi.

14 February 2007

"Ela sempre enfurecia-se sozinha, irritava-se sozinha, suportava sozinha suas intensas convulsões emocionais, das quais ele nunca participava." Anaïs Nin
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Poucos são aqueles que controlam a situação. A consciência se distância do corpo e ruma às estrelas. Tornamo-nos marinheiros que acreditam no canto das sereias. Somos tão bobos e iludidos, vendidos e prostituídos por nossas idéias de certo e errado que não nos damos o trabalho de expor as questões que emergem do outro lado. Não mergulhamos para não nos sufocarmos. Somos ressonância em um mar de silêncio e ignorância.

Às vezes é bom sentir dor para nos sentirmos humanos. Buscamos ser imortais. Mas nos esquecemos de que o mundo é das químicas letais. Guardamos na gaveta mais profunda a violência e brutalidade que fez com que chegassemos aqui. Somos animais que temem reagir. Deixamo-nos ferir. Suportamos e, por dentro, desejamos explodir. A punição vai segurando as rédeas. Estamos com os ouvidos sempre arredidos. A moral vai levemente regrando. E nos lembramos que não há e nunca houve moral... Nos olhos, um pouco de medo do caos. Porem, é ele que controla estes dias. É preciso saber onde focar toda essa ira. Uma só bala pode matar a rainha. Talvez seja a hora certa para a queda de mais uma dinastia. O tão esperado tombo da bailarina.

Cobiçamos, mas tememos assumir o poder. Cante por aquilo que nunca irá ver, trancafiado em um corpo deformado, por suas atitudes rudes. Sente em uma cadeira e perceba que não há o que observar, toda vez que tenta desviar o olhar...
Qual o seu motivo, para desviá-lo?

O que você tem de medo, é exatamente o que vai ter de dor.

Sinta ao amanhecer o torpor. Perceba que não há ninguém ao seu redor. Despeça-se deste tom de pele. Revele.

12 February 2007

Como eu dizia, um dragão jamais pertence a nem mora com alguém. Seja uma pessoa banal igual a mim, seja um unicórnio, salamandra, elfo, sereia ou ogro. Eles não dividem seus hábitos. Ninguém é capaz de compreender um dragão. Quem poderia compreender, por exemplo, que logo ao despertar (e isso pode acontecer em qualquer horário, já que o dia e a noite deles acontecem para dentro) sempre batem a cauda três vezes, como se estivessem furiosos, soltando fogo pelas ventas e carbonizando qualquer coisa próxima num raio de mais de cinco metros? Hoje, pondero: talvez seja a sua maneira desajeitada de dizer: que seja doce.

06 February 2007

Os olhos perdidos na extensão pálida da pele, fina e frágil, quente, parecendo quase se desprender do corpo nu. Caminhando com as pontas dos dedos, aprendendo seus caminhos, os lugares secretos que faziam estremecer-se, se contorcer, gemer tão levemente que em seus corpos todos os pêlos eriçavam-se, uma súplica de paixão não-verbal. Desfrutavam desse prazer todas as noites e isso lhes tomava todo seu tempo, preenchia todos seus dias.

De olhos fechados respiravam seus aromas, e em meio a uma multidão poderiam reconhecer suas mútuas presenças, como um enorme ímã que levava seus pés ao encontro um do outro. Aspiravam seus corpos, seus cabelos, o ar quente que emanavam. Podiam sentir suas almas em suas bocas em beijos doces, inefáveis, selvagens. Os contornos eram tão claros que os cegavam, eles era uma orquestra de gostos e sensações, sinestésicos, anestésia geral. Aqueles corpos fléxiveis que se abriam ao prazer, que se atiravam um no outro sem medos. Sabiam que haviam achado seu refúgio, ali, quando um se via nos olhos do outro. Tudo parecia ter lógica.

A paz só era conhecida quando descansavam em seus peitos, libertos do resto do mundo, da vida. Tudo excitava o desejo, e a distância pontencializava loucura. A sombra que um deixavam no outro era visível a olhos nu, causando desconforto em quem reconhecia a felicidade tão explícita, em estado bruto.

E distante ela adormece extenuada, em sono ele lhe acorda com beijos. Por isso nunca soube quanto tempo havia passado, mas sabia da chegada.