03 September 2020

Sem título

Eu poderia falar sobre várias coisas, sobre os anos que passam e pouco mudam, mas mudam tanto dentro de mim. Poderia falar de dores de superações, de como as coisas do passado ainda doem. Poderia falar sobre o nada absoluto, o buraco que nunca se preenche na minha alma, e o quanto consegui preencher e as pessoas que passei a amar. Mas tem algo que não consigo falar sobre, sobre você. A espera, o vazio, o buraco deixado. Sobretudo, como ainda não aprendi a lidar com o que sinto por você. Agora é diferente, eu jamais saberei explicar como. Há anos não externo esses sentimentos, mas uma palavra sua e de alguma maneira as coisas voltaram. Agora faço terapia, falo de maneira mais direta sobre meus sentimentos, mas nunca falei de você em momento algum. É uma ferida que achei que estivesse cicatrizada, e está, mas que ainda dói. Agora entendo um pouco melhor, aceito meus erros, suas limitações. As nossas. Sei lá. Tomo remédios que não me deixam mais chorar,mas eu queria poder agora,chorar A garganta ainda aperta, o coração bate mais rápido e eu queria poder chorar tudo isso e tentar deixar onde esse tudo pertence. Passado. Anos e anos e anos. Você lembra quantos? Fecho meus olhos e tudo volta, cores, cheiros, tato. Palavras, sussurros, inseguranças. Como você está? Eu quero acreditar que feliz. Feliz como eu sempre sonhei que você seria. Eu estou ainda lidando com meus monstros. Cada dia parece ser um diferente. E cada dia eu e eles conversamos, lidamos uns com os outros. Não somos mais inimigos. De alguns virei amiga, outros ainda não sei como me livrar. Queria poder usar essa terminologia mais livremente, meu ex-grande-amor. Porque você foi, é ainda. Tudo que idealizei e obviamente nunca existiu. Como a gente pode se livrar do que não viveu? Do que cultivou com tanto afinco no fundo da alma? Agora, mais velha, passado meus vinte e tantos, chegando aos quarenta, eu sei que a maior parte daquilo nunca existiu. Mas é o que eu senti? Aquela noite num subsolo? O que o meu coração me contou? Divagações. Eu jamais quis causar dor, mas também não queria sentir. E nesse desejo louco de negar a dor senti e causei. Obviamente algumas coisas são melhores nas nossas ilusões, mas... mas. Apesar de tudo ainda não aprendi como lidar com isso tudo. Como lhe dizer que você, nós, o irreal, foi mais verdadeiro do que qualquer outra coisa que já tive? Ridículo agora.