06 October 2008

Tanto sangue em vão

Tem essas músicas que me fazem voltar no tempo, muito tempo... 1996 foi um ano ruim.
Foi um ano de dor e drama, foi o ínicio disso tudo, meu prelúdio.
Uma outra vida... tão longe, tão nova, tão doce, tão crédula. Tão eu.

Era um sofrimento que eu não sabia de onde vinha, e vinha de mim. Tenho a impressão de que tudo era extremo naquele tempo, ou os dias quentes e claros demais, ou frios e cinzas, molhados, com cheiro de incenso. Com gosto salgado. Com danças na chuva, com suor na pele bronzeada. Extremos.

Posso quase dizer que sou o negativo daqueles dias, ou aqueles dias são o negativo de quem sou hoje. Ainda não me decidi quem ser de verdade.

Lembro das tentativas de viver um passado, uma outra vida dentro dessa vida, que agora são milhares passadas.

As velas, as sombras, as noites, as vozes, os gostos, as vontades. Moíses e o cordeiro em cima do monte para serem imolados sobre as tábuas que não salvam ninguém.

As músicas.



Tem músicas que me fazem voltar no tempo. Há muito tempo...





Acrilic on Canvas

Legião Urbana

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
Da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez

E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"

1 comment:

... said...

alguns dias atrás, uma música da legião estava em minha cabeça. não parava de tocar/cantar. Giz. Conhece?

Lembrei dos momentos antigos, quando eu sonhava com a rebeldia e acordava com a realidade.

tudo fala sobre amor. mas, o que será amor?