13 August 2007

Sonhei. Dos sonhos que não são lembrados, mas fica o resquício de aroma para perseguir. Não sei porque, mas era real. Um passado que olhando daqui parece uma outra vida. E era. Eu, me vendo fora de mim. Sempre fui dada ao drama, e ele sempre me moveu. Mas posso dizer que acalmei minha alma, depois de toda lama que atravessei. Sonhei e me encontrei querendo achar atalhos para chegar lá, visitá-lo, uma mórbida vontade de ver as coisas de antes com meus prismas de agora. A realidade como eu julgava ser e como julgo. Estranho.
Desatados os nós as coisas flutuam. Não se perdem, voltam em níveis de consciência mais densos, inatingíveis para minha vontade.
É como levar flores ao túmulo de um grande amor. Como lembrar de um professor que te ensinou boa parte do que você sabe hoje. Com carinho.
É isso, boa parte do que sou, de bom e ruim, devo a este. Talvez por isso a repetição que não controlo.


"Ela pousa para mim ao partir. Apetece-me sair a correr e beijar a sua fantástica beleza, beijá-la e dizer: "Tu levas contigo um reflexo de mim, uma parte de mim. Eu sonhei-te, desejei a tua existência. Serás sempre parte da minha vida. Se eu te amo, tem de ser por termos partilhado, alguma vez, o mesmo imaginário, a mesma loucura, o mesmo palco. (...)". Amo-a pelo que ela ousou ser, pela sua dureza, a sua crueldade, o seu egoísmo, a sua perversidade, a sua destrutividade demoníaca. Ela era capaz de me reduzir a cinzas, sem hesitar. Ela é uma personalidade criada para os extremos. Eu admiro a sua coragem para magoar, e estou disposta a ser-lhe sacrificada. Ela somará a totalidade de mim a si. Ela será June mais tudo o que eu contenho."

Anaïs Nin - Henry e June, trecho onde Anaïs descreve seus sentimentos em relação à June, mulher de Henry Miller, com quem ela teve um caso (tanto June quanto Henry).

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