cartas para alguém bem perto
03 September 2020
Sem título
Eu poderia falar sobre várias coisas, sobre os anos que passam e pouco mudam, mas mudam tanto dentro de mim. Poderia falar de dores de superações, de como as coisas do passado ainda doem. Poderia falar sobre o nada absoluto, o buraco que nunca se preenche na minha alma, e o quanto consegui preencher e as pessoas que passei a amar.
Mas tem algo que não consigo falar sobre, sobre você. A espera, o vazio, o buraco deixado. Sobretudo, como ainda não aprendi a lidar com o que sinto por você.
Agora é diferente, eu jamais saberei explicar como. Há anos não externo esses sentimentos, mas uma palavra sua e de alguma maneira as coisas voltaram.
Agora faço terapia, falo de maneira mais direta sobre meus sentimentos, mas nunca falei de você em momento algum. É uma ferida que achei que estivesse cicatrizada, e está, mas que ainda dói.
Agora entendo um pouco melhor, aceito meus erros, suas limitações. As nossas. Sei lá.
Tomo remédios que não me deixam mais chorar,mas eu queria poder agora,chorar
A garganta ainda aperta, o coração bate mais rápido e eu queria poder chorar tudo isso e tentar deixar onde esse tudo pertence. Passado. Anos e anos e anos. Você lembra quantos?
Fecho meus olhos e tudo volta, cores, cheiros, tato. Palavras, sussurros, inseguranças.
Como você está? Eu quero acreditar que feliz. Feliz como eu sempre sonhei que você seria. Eu estou ainda lidando com meus monstros. Cada dia parece ser um diferente. E cada dia eu e eles conversamos, lidamos uns com os outros. Não somos mais inimigos. De alguns virei amiga, outros ainda não sei como me livrar.
Queria poder usar essa terminologia mais livremente, meu ex-grande-amor. Porque você foi, é ainda. Tudo que idealizei e obviamente nunca existiu.
Como a gente pode se livrar do que não viveu? Do que cultivou com tanto afinco no fundo da alma?
Agora, mais velha, passado meus vinte e tantos, chegando aos quarenta, eu sei que a maior parte daquilo nunca existiu. Mas é o que eu senti? Aquela noite num subsolo? O que o meu coração me contou? Divagações.
Eu jamais quis causar dor, mas também não queria sentir. E nesse desejo louco de negar a dor senti e causei.
Obviamente algumas coisas são melhores nas nossas ilusões, mas... mas. Apesar de tudo ainda não aprendi como lidar com isso tudo.
Como lhe dizer que você, nós, o irreal, foi mais verdadeiro do que qualquer outra coisa que já tive? Ridículo agora.
25 March 2011
05 February 2011
17 December 2010
Kriptonita
E existem aquelas pessoas que aparecem, do nada, na nossa vida.
E não se pode prometer nada também, comprometimento ou paixão, ou laços que sejam.
Apenas as lembranças.
E esse meu "do nada" não significa que elas não signifiquem nada, verdadeiramente significam muito. Mais do que eu posso falar.
É aquilo que te faz pensar em momentos vazios, seu retorno ao bom, ao selvagem, ao próprio eu que renegamos e entregamos sem pedir algo em troca.
Não posso te prometer nada, mas isso eu posso:
Não irei esquecer.
E isso às vezes me enfraquece pela força do que foi, mas ainda pelo o que eu queria que poderia ser.
E não se pode prometer nada também, comprometimento ou paixão, ou laços que sejam.
Apenas as lembranças.
E esse meu "do nada" não significa que elas não signifiquem nada, verdadeiramente significam muito. Mais do que eu posso falar.
É aquilo que te faz pensar em momentos vazios, seu retorno ao bom, ao selvagem, ao próprio eu que renegamos e entregamos sem pedir algo em troca.
Não posso te prometer nada, mas isso eu posso:
Não irei esquecer.
E isso às vezes me enfraquece pela força do que foi, mas ainda pelo o que eu queria que poderia ser.
E existem aquelas pessoas que aparecem, do nada, na nossa vida.
E não se pode prometer nada também, comprometimento ou paixão, ou laços que sejam.
Apenas as lembranças.
E esse meu "do nada" não significa que elas não signifiquem nada, verdadeiramente significam muito. Mais do que eu posso falar.
É aquilo que te faz pensar em momentos vazios, seu retorno ao bom, ao selvagem, ao próprio eu que renegamos e entregamos sem pedir algo em troca.
Não posso te prometer nada, mas isso eu posso:
Não irei esquecer.
E isso às vezes me enfraquece pela força do que foi, mas ainda pelo o que eu queria que poderia ser.
E não se pode prometer nada também, comprometimento ou paixão, ou laços que sejam.
Apenas as lembranças.
E esse meu "do nada" não significa que elas não signifiquem nada, verdadeiramente significam muito. Mais do que eu posso falar.
É aquilo que te faz pensar em momentos vazios, seu retorno ao bom, ao selvagem, ao próprio eu que renegamos e entregamos sem pedir algo em troca.
Não posso te prometer nada, mas isso eu posso:
Não irei esquecer.
E isso às vezes me enfraquece pela força do que foi, mas ainda pelo o que eu queria que poderia ser.
11 December 2010
É complicado.
Não nego, e nem me arrependo, do que aconteceu. Mas o que escolhi foi o que me levou ao 'falso ignorar'.
Como falar que não gostei de tudo aquilo? Foi o que precisava, no exato momento. E hoje nem posso comentar.
Não sei se a decisão que tomei foi certa ou não, mas não significa que aquela manhã não tenha um sentido maior pra mim. Foi. E é. E ainda penso se eu não tivesse decidido isso.
O ponto nem é esse. É apenas que pra mim você significa muito, ainda que não saiba.
Feliz aniversário.
Não nego, e nem me arrependo, do que aconteceu. Mas o que escolhi foi o que me levou ao 'falso ignorar'.
Como falar que não gostei de tudo aquilo? Foi o que precisava, no exato momento. E hoje nem posso comentar.
Não sei se a decisão que tomei foi certa ou não, mas não significa que aquela manhã não tenha um sentido maior pra mim. Foi. E é. E ainda penso se eu não tivesse decidido isso.
O ponto nem é esse. É apenas que pra mim você significa muito, ainda que não saiba.
Feliz aniversário.
11 November 2010
Ai seu mundo cai. E você não sabe como se erguer, afinal, o que valeria a pena?
Você?
Absolutamente não!
Isso. Exclamação, NÂO! Caps. Irredutível.
Vale a pena todo seu tempo de autopiedade? De auto conhecimento? De pseudos milhões de coisas?
NÃO!!!!!!!!!
Seu emprego de merda. Sua família de merda. Seu ex pseudo namorado de merda que joga na sua cara que não te ama mais por você não ter sido dura suficiente. Sua maldita auto piedade e teatro de 'vítima do mundo'.
Ah querida, CLARO QUE NÃO!
Se fode.
Ai dizem: 'Procura no amor, ou no ódio, a força pra mudar'. Mas, porra, você não acredita nisso. O amor te levou a merda em outro nível, e o ódio... bem, ainda se acha boa samaritana demais pra apelar pra isso.
Ah vamos, parar com mentiras! Acha que apelar pro ódio vai afastar os outros que você poderia tentar preservar se fingindo ser veterana nisso? Odeio o ódio. Não sei jogar nesse nível.
"A porra do negativo trás mais negativo".
Um dia dou porrada em quem me fez acreditar nisso.
Você?
Absolutamente não!
Isso. Exclamação, NÂO! Caps. Irredutível.
Vale a pena todo seu tempo de autopiedade? De auto conhecimento? De pseudos milhões de coisas?
NÃO!!!!!!!!!
Seu emprego de merda. Sua família de merda. Seu ex pseudo namorado de merda que joga na sua cara que não te ama mais por você não ter sido dura suficiente. Sua maldita auto piedade e teatro de 'vítima do mundo'.
Ah querida, CLARO QUE NÃO!
Se fode.
Ai dizem: 'Procura no amor, ou no ódio, a força pra mudar'. Mas, porra, você não acredita nisso. O amor te levou a merda em outro nível, e o ódio... bem, ainda se acha boa samaritana demais pra apelar pra isso.
Ah vamos, parar com mentiras! Acha que apelar pro ódio vai afastar os outros que você poderia tentar preservar se fingindo ser veterana nisso? Odeio o ódio. Não sei jogar nesse nível.
"A porra do negativo trás mais negativo".
Um dia dou porrada em quem me fez acreditar nisso.
01 November 2010
É mais simples que parece, a vida é foda. Aí acaba a simplicidade.
Um dia alguém, estranho, diz que te ama, e toda uma plot se desenrola em torno da citação dita milhares de milhões de vezes antes. Um sentimento de conforto, de necessidade, de querência em sentir o mesmo. E é tudo mentira. Onde foi mesmo que li que paixão era um processo químico que durava uns 3, 4 anos? Alguma revista, sei lá se Marie Clarie ou outra científica mais legal pra se citar, mas estava lá: acaba. Paixão é química, e oh! que horror acaba! Primeiro pra um, depois pro outro.
E finito, ponto final.
Você diz 'te amo' e a resposta automática, despida de sentimento e vem o 'eu também, até o dia do 'bem... eu não te amo mais'. E dói como o inferno.
E assim acabam 4 anos da sua vida devotada ao outro.
E vêm a ausência.
E a rejeição.
E a dor dos infernos.
E onde foi parar os planos que vocês fizeram juntos?
No mundo dos planos apenas.
Aquela viagem, e aquele possível casamento na praia, e os filhos, e os nomes, e tudo o mais.
A-ca-ba.
Fim, ponto final onde você nunca sequer cogitou que haveria.
Aí você acha sensato tentar, seja lá o que for, mas não há resposta. O sexo ainda é bom, gosh, ainda é sexo, e não tem como não ser bom ainda, mas é toda a intensidade do fim. Com letras MAIÚSCULAS.
Todo fogo é tomado, e é algo tão banal que mal vale a pena, a manhã seguinte é seguida de vergonha.
Um eu te amo é tão vazio quanto foder com seu vizinho nojento que escuta músicas estranhas e faz coisas do nível 'ewwwl'!
Aí um dia, depois de sei lá, meses, você vê que tentar é tão inútil quanto não tentar, só que mais doloroso.
Entenda, ELE NÃO TE AMA MAIS. Acorde sozinha e vá viver a porra da sua vida sozinha. Mais digno que tentar e saber que seus amigos pelas costas se perguntam porquê você ainda tenta algo tão falido quanto a economia de um páis de 3º mundo. Cuba. Colômbia. Venezuela. Guatemala. Iraque. Essas que a gente sabe que por um bom tempo não terão jeito.
Assim como você e sicrano, aquele perfeito pra sua vida. Aquele que te deixou pra aderir à Comunidade Européia e foder uma loira aguada ou uma ruiva de farmácia que ele sempre assistia nos filmes pornôs.
Decadência, ou como gostam de chamar, evolução.
Um dia alguém, estranho, diz que te ama, e toda uma plot se desenrola em torno da citação dita milhares de milhões de vezes antes. Um sentimento de conforto, de necessidade, de querência em sentir o mesmo. E é tudo mentira. Onde foi mesmo que li que paixão era um processo químico que durava uns 3, 4 anos? Alguma revista, sei lá se Marie Clarie ou outra científica mais legal pra se citar, mas estava lá: acaba. Paixão é química, e oh! que horror acaba! Primeiro pra um, depois pro outro.
E finito, ponto final.
Você diz 'te amo' e a resposta automática, despida de sentimento e vem o 'eu também, até o dia do 'bem... eu não te amo mais'. E dói como o inferno.
E assim acabam 4 anos da sua vida devotada ao outro.
E vêm a ausência.
E a rejeição.
E a dor dos infernos.
E onde foi parar os planos que vocês fizeram juntos?
No mundo dos planos apenas.
Aquela viagem, e aquele possível casamento na praia, e os filhos, e os nomes, e tudo o mais.
A-ca-ba.
Fim, ponto final onde você nunca sequer cogitou que haveria.
Aí você acha sensato tentar, seja lá o que for, mas não há resposta. O sexo ainda é bom, gosh, ainda é sexo, e não tem como não ser bom ainda, mas é toda a intensidade do fim. Com letras MAIÚSCULAS.
Todo fogo é tomado, e é algo tão banal que mal vale a pena, a manhã seguinte é seguida de vergonha.
Um eu te amo é tão vazio quanto foder com seu vizinho nojento que escuta músicas estranhas e faz coisas do nível 'ewwwl'!
Aí um dia, depois de sei lá, meses, você vê que tentar é tão inútil quanto não tentar, só que mais doloroso.
Entenda, ELE NÃO TE AMA MAIS. Acorde sozinha e vá viver a porra da sua vida sozinha. Mais digno que tentar e saber que seus amigos pelas costas se perguntam porquê você ainda tenta algo tão falido quanto a economia de um páis de 3º mundo. Cuba. Colômbia. Venezuela. Guatemala. Iraque. Essas que a gente sabe que por um bom tempo não terão jeito.
Assim como você e sicrano, aquele perfeito pra sua vida. Aquele que te deixou pra aderir à Comunidade Européia e foder uma loira aguada ou uma ruiva de farmácia que ele sempre assistia nos filmes pornôs.
Decadência, ou como gostam de chamar, evolução.
08 October 2010
07 September 2010
É porquê cada vez que choro por ti, eu penso, não vale a pena.
E o dia seguinte é mais fácil. E depois de tanto tempo vai passar.
Porque precisa.
E porque eu já chorei o suficiente.
E ainda assim procuro aquelas fotos antigas, de quando tudo parecia felicidade e era mentira.
Mas viver é muito parecido com isso:
E o dia seguinte é mais fácil. E depois de tanto tempo vai passar.
Porque precisa.
E porque eu já chorei o suficiente.
E ainda assim procuro aquelas fotos antigas, de quando tudo parecia felicidade e era mentira.
Mas viver é muito parecido com isso:
Tudo, tudo, tudo, tudo!
Damnit you!
Você nunca lerá nada, e isto será o meu segredo.
Você. Lenina. Eu, o Selvagem.
Mundos diferentes, diferentes sentimentos. Condicionamentos!!!!
Mas a necessidade da profundidade, pra mim, sempre, e a você, utópica!
Você MEU SOMA, eu, sua realidade insólita.
Nós, nunca a realidade.
Damnit you!
Você nunca lerá nada, e isto será o meu segredo.
Você. Lenina. Eu, o Selvagem.
Mundos diferentes, diferentes sentimentos. Condicionamentos!!!!
Mas a necessidade da profundidade, pra mim, sempre, e a você, utópica!
Você MEU SOMA, eu, sua realidade insólita.
Nós, nunca a realidade.
03 September 2010
Sempre penso em ti como uma salvação, a que nunca tive, e que agora desisti.
Por motivos absurdos penso em ti como a pessoa que me levará ao que devo ser, mas que é inalcançável. O inatingível, o irreal, o poderoso que há em mim em transformar o comum em mágico.
Durmo demais, nada tem graça e nem vale o esforço, a graça se perdeu há tanto tempo que mal posso colocar em escalas.
Tudo poderia ser perfeito, tudo poderia ser algo como nos contos de fada, e você meu príncipe, eu a princesa esperando em topor. Mas estou sempre muito 'aware' (às vezes penso melhor em inglês, assim como saudade é algo que só existe em nossa língua em tal definição, outras apenas em outras que pouco conheço).
Nós somos aquele momento perfeito nunca concretizado no depois, e que sempre sonhamos. Triste demais, mas a dor é o que o faz belo, tal momento foi feito pelo eterno que sempre se espera.
É pedir ao mundo que o destino exista, mas existem tantos caminhos válidos e esses nunca se cruzam, sempre há o 'se' daqueles que não seguimos, e a saudade do que não aconteceu. É tão difícil colocar em palavras isso, impossível.
É a dor do choro engasgado, dos olhos ardendo, do coração palpitando, da poesia que nunca será escrita. Desse 'nós' que venero, mas sou obrigada a esquecer.
As manhãs com olhos inchados, as tardes de risos perdidos, as noites de conversas intermináveis. Tudo isso você me fez crer, tudo isso eu passei.
Sou a pessoa que vive de passado por não saber o que querer do futuro além daquilo que nunca poderá ter. Por não acreditar em deuses do mundo moderno, nem em mim mesma, por ser tão pequena que não alcança o tão pouco ao alcance dos dedos ávidos.
Falhei em te querer, em te amar, em me amar, em acreditar, em querer tudo ao mesmo tempo. Hoje sou a sombra daquilo que defendi. Hoje não sei falar o que te falei. E mesmo isso era nada, mas era perto do que queria do que queria te fazer sentir.
Nessa noite chorei escutando nossas músicas porque decidi que não são nossas, são minhas. São o que sinto, são o que eu quis e o que tentei te fazer sentir, mas o aquilo que somente eu senti. E ainda assim não deixa de ser belo, e trágico, para mim.
Esquecer nunca é fácil, mas já esqueci outros amores, meu primeiro foi o grande erro que hoje me faz pensar em quando é inútil sofrer por nada, tão pouco, e em quanto o tempo é poderoso. E meu último deve ser o mesmo. Assim como você. Como eu.
Querer a felicidade, assim como te desejar, é uma utopia de cínicos. Sofra. Dê valor. Cave. Um dia chore até não poder pensar em mais nada além dos seus motivos para chorar. E depois defina o que é amor para você.
Até hoje para mim foi essa espera que nunca resultou em nada. Você não acordou um dia e me viu como a mulher da sua vida, que te enxergou como é, e aquela que valeria a pena abrir mão do que julga até hoje importante. Isso não deixa de ser triste, tanto quanto não deixa de ser real.
Por motivos absurdos penso em ti como a pessoa que me levará ao que devo ser, mas que é inalcançável. O inatingível, o irreal, o poderoso que há em mim em transformar o comum em mágico.
Durmo demais, nada tem graça e nem vale o esforço, a graça se perdeu há tanto tempo que mal posso colocar em escalas.
Tudo poderia ser perfeito, tudo poderia ser algo como nos contos de fada, e você meu príncipe, eu a princesa esperando em topor. Mas estou sempre muito 'aware' (às vezes penso melhor em inglês, assim como saudade é algo que só existe em nossa língua em tal definição, outras apenas em outras que pouco conheço).
Nós somos aquele momento perfeito nunca concretizado no depois, e que sempre sonhamos. Triste demais, mas a dor é o que o faz belo, tal momento foi feito pelo eterno que sempre se espera.
É pedir ao mundo que o destino exista, mas existem tantos caminhos válidos e esses nunca se cruzam, sempre há o 'se' daqueles que não seguimos, e a saudade do que não aconteceu. É tão difícil colocar em palavras isso, impossível.
É a dor do choro engasgado, dos olhos ardendo, do coração palpitando, da poesia que nunca será escrita. Desse 'nós' que venero, mas sou obrigada a esquecer.
As manhãs com olhos inchados, as tardes de risos perdidos, as noites de conversas intermináveis. Tudo isso você me fez crer, tudo isso eu passei.
Sou a pessoa que vive de passado por não saber o que querer do futuro além daquilo que nunca poderá ter. Por não acreditar em deuses do mundo moderno, nem em mim mesma, por ser tão pequena que não alcança o tão pouco ao alcance dos dedos ávidos.
Falhei em te querer, em te amar, em me amar, em acreditar, em querer tudo ao mesmo tempo. Hoje sou a sombra daquilo que defendi. Hoje não sei falar o que te falei. E mesmo isso era nada, mas era perto do que queria do que queria te fazer sentir.
Nessa noite chorei escutando nossas músicas porque decidi que não são nossas, são minhas. São o que sinto, são o que eu quis e o que tentei te fazer sentir, mas o aquilo que somente eu senti. E ainda assim não deixa de ser belo, e trágico, para mim.
Esquecer nunca é fácil, mas já esqueci outros amores, meu primeiro foi o grande erro que hoje me faz pensar em quando é inútil sofrer por nada, tão pouco, e em quanto o tempo é poderoso. E meu último deve ser o mesmo. Assim como você. Como eu.
Querer a felicidade, assim como te desejar, é uma utopia de cínicos. Sofra. Dê valor. Cave. Um dia chore até não poder pensar em mais nada além dos seus motivos para chorar. E depois defina o que é amor para você.
Até hoje para mim foi essa espera que nunca resultou em nada. Você não acordou um dia e me viu como a mulher da sua vida, que te enxergou como é, e aquela que valeria a pena abrir mão do que julga até hoje importante. Isso não deixa de ser triste, tanto quanto não deixa de ser real.
Nine Inch Nails - Something I can never have (still)
Por vários motivos, peculiares, públicos, meus, essa maldita música sempre me faz chorar.
E o nó na garganta ao tentar segurar dói como o diabo.
Só eu sei o que isso significa pra mim, e é só a quem importa. Como pode coisa tão boba doer, fisicamente, tanto?
Acho que dói mais porque hoje, agora há pouco, eu resolvi cortar laços, e essa música diz tanto.
Sério,dói.
Mas amanhã passa, sempre passa.
E o nó na garganta ao tentar segurar dói como o diabo.
Só eu sei o que isso significa pra mim, e é só a quem importa. Como pode coisa tão boba doer, fisicamente, tanto?
Acho que dói mais porque hoje, agora há pouco, eu resolvi cortar laços, e essa música diz tanto.
Sério,dói.
Mas amanhã passa, sempre passa.
Eu não quero te falar faça, tanto quanto o 'não faça'.
Eu quero te falar das probalidades. Do que pode ser, poderia, será.
No mínimo o sexo, a carne trêmula, a voz rouca, as mordidas, as marcas. No máximo uma lembrança que não se arrepende, o que aconteceu me bastou pra achar que nunca seria um erro eu e você. E droga, nunca chegamos a esse ponto. Apenas sua mão no meu pescoço, e seus dentes nos meus lábios, minhas unhas nas suas costas, minha língua na sua garganta.
E quem não iria querer mais que isso, depois de alcançar o mínimo que alcançamos?
Eu quero te falar das probalidades. Do que pode ser, poderia, será.
No mínimo o sexo, a carne trêmula, a voz rouca, as mordidas, as marcas. No máximo uma lembrança que não se arrepende, o que aconteceu me bastou pra achar que nunca seria um erro eu e você. E droga, nunca chegamos a esse ponto. Apenas sua mão no meu pescoço, e seus dentes nos meus lábios, minhas unhas nas suas costas, minha língua na sua garganta.
E quem não iria querer mais que isso, depois de alcançar o mínimo que alcançamos?
29 August 2010
25 August 2010
Fico ouvindo várias vezes: "Má, por que você não tem um blog?!"
O fato é, tenho esse que é remanescente dos milhões que tinha antes, mas aqui eu ainda tento escrever o que escrevia. E o que me falam para fazer é sobre moda, tendências, maquiagens, atitudes.
Gosto muito de tudo isso, e tenho até a pretensão de achar que conheço bem essas áreas, mas não sei realmente como repassar tudo, por isso re-posto do buzz tudo que acho legal. É sério, lá tem de, nus artísticos muito fodas, até as frivolidades de interesses gerais.
Quem sabe um dia algum desavisado entra aqui e acha essas coisas, e eu vire, ohmygosh, blogeira de verdade...
O fato é, tenho esse que é remanescente dos milhões que tinha antes, mas aqui eu ainda tento escrever o que escrevia. E o que me falam para fazer é sobre moda, tendências, maquiagens, atitudes.
Gosto muito de tudo isso, e tenho até a pretensão de achar que conheço bem essas áreas, mas não sei realmente como repassar tudo, por isso re-posto do buzz tudo que acho legal. É sério, lá tem de, nus artísticos muito fodas, até as frivolidades de interesses gerais.
Quem sabe um dia algum desavisado entra aqui e acha essas coisas, e eu vire, ohmygosh, blogeira de verdade...
21 August 2010
18 August 2010
Eu não sou um ser estático, nunca fui. Mas também nunca deixei de sentir aquilo que me fez mudar em meu eixo, aquilo que me fez que sou. Nunca neguei minha essência, por mais que isso tenha incomodado a quem me tinha valor, como já disse, é parte do que sou.
O pior e o melhor sempre fizeram parte de mim, e posso dizer que agora sei ser a filhadaputa que queriam que eu fosse no passado, mas ainda sei ver com olhos de quem acredita nos outros. Eu tenho meu passado, que queria que voltasse, e o meu presente, que eu não poderia pedir melhor. Ou poderia, mas, comparando com antes... não.
Hoje sou o que já fui e o que sempre quis ser, mas ainda não me sinto satisfeita. Casar não quero, e filhos desisti, era muito a idéia dos meus 20 anos, aquela quem acreditava no melhor de mim e do mundo e não conhecia bem a realidade. E mesmo naquela época me ensinaram o quão doloroso isso poderia ser.E mesmo naquela época eu fui forçada a desistir.
O fato é, hoje sou mais feliz do que nunca fui, o que não me impede de relembrar e sentir falta do meu passado, dos meus sonhos, das facilidades.
E ainda mais de ti, já que nunca tivemos a oportunidade de nada, e que tudo foi tão cedo. E tudo se resumiu ao medo.
Assumo, por ti eu abriria mão do meu presente certo, por um mero talvez. Por ti, e pela incerteza do que a gente nunca conheceu.
O pior e o melhor sempre fizeram parte de mim, e posso dizer que agora sei ser a filhadaputa que queriam que eu fosse no passado, mas ainda sei ver com olhos de quem acredita nos outros. Eu tenho meu passado, que queria que voltasse, e o meu presente, que eu não poderia pedir melhor. Ou poderia, mas, comparando com antes... não.
Hoje sou o que já fui e o que sempre quis ser, mas ainda não me sinto satisfeita. Casar não quero, e filhos desisti, era muito a idéia dos meus 20 anos, aquela quem acreditava no melhor de mim e do mundo e não conhecia bem a realidade. E mesmo naquela época me ensinaram o quão doloroso isso poderia ser.E mesmo naquela época eu fui forçada a desistir.
O fato é, hoje sou mais feliz do que nunca fui, o que não me impede de relembrar e sentir falta do meu passado, dos meus sonhos, das facilidades.
E ainda mais de ti, já que nunca tivemos a oportunidade de nada, e que tudo foi tão cedo. E tudo se resumiu ao medo.
Assumo, por ti eu abriria mão do meu presente certo, por um mero talvez. Por ti, e pela incerteza do que a gente nunca conheceu.
12 August 2010
La Petit Mort
Droga!
Às vezes penso se aquele sofá pudesse contar estórias. A nossa seria apenas mais uma, mas seria a única que eu queria saber. Eu e você, depois de tanto tempo e ansiedade. As palavras e o corpo e os sentimentos e os instintos.
Como eu quero que você saiba que te almaldiçoo por aquela noite e tudo que ali, a parti dali, ficou reprimido dentro de mim.
Aquele sofá.
Se fosse como deveria ter sido, eu teria te esquecido, superado, dado o adeus que nunca quis dar.
Mas diabos! Até hoje, você e as cenas que aquele sofá poderia narrar me perseguem antes de dormir.
06 August 2010
Não sei se foi a solidão, ou o desdém, ou qualquer coisa parecida com isso. Mas quando fui tentar o que achava ser correto li esse trecho de um livro do Aldous Huxley e vi o que sempre tinha meio que negado para mim mesma. A solidão intrínseca ao ser-humano, mesmo quando negamos isso (você pode querer ser um monstro, mas é o que é, humano). Não sei se ao ler isso me senti bem ou mal, mas fez todo sentido do mundo, algo que eu precisava naquela época.
"Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendência, debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias - tudo isso são coisas privadas e, a não ser através de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidos. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares. Muitos desses universos são suficientemente semelhantes uns aos outros para permitir entre eles uma compreensão por dedução, ou mesmo por mútua projeção de percepção. Assim, recordando nossos próprios infortúnios e humilhações podemos nos condoer de outras pessoas em circunstâncias análogas; somos até capazes de nos pormos em seu lugar (sempre, evidentemente, em sentido figurado). Mas em certos casos a ligação entre esses universos é incompleta, ou mesmo inexistente. A mente é o seu campo, porém os lugares ocupados pelo insano e pelo gênio são tão diferentes daqueles onde vivem o homem e a mulher comuns que há pouco ou nenhum ponto de contato na memória de cada um para servir de base à compreensão ou a ligação entre eles. Falam, mas não se entendem. As coisas e fatos que símbolos se referem pertencem a reinos de experiências que se excluem mutuamente.
Contemplarmo-nos do mesmo modo pelo qual os outros nos vêem é uma das mais confortadoras dádivas. E não menos importante é o dom de vermos os outros tal como eles mesmo se encaram. Mas e se esses outros pertencerem a uma espécie diferente e habitarem um universo inteiramente estranho? Assim, como poderá o indivíduo, mentalmente são, sentir o que realmente sente o insano? Ou, na iminência de ser reencarnado na pessoa de um sonhador, um médium ou um gênio musical, como poderíamos algum dia visitar os mundos que para Blake, Swedenborg ou Johann Sebastian Bach eram seus lares? E como poderá alguém, que esteja nos limites extremos do ectomorfismo e da cerebrotonia, pôr-se no lugar de outrem que ocupa o limite oposto do endomorfismo e da viscerotonia ou (a não ser dentro de certas áreas restritas) compartilhar dos sentimentos de um terceiro que se situe no campo do mesomorfismo e da somatotonia? Para o behaviorista inflexível, tais proposições – suponho eu – são desprovidas de sentido. Mas para aqueles que aceitam, do ponto de vista teórico, aquilo que, na pratica, sabem ser verdade – isto é, que a experiência possui dois aspectos, um externo e outro interno -, os problemas apresentados são reais e tanto mais sérios por serem, alguns, inteiramente insolúveis, e outros só poderem ser resolvidos em circunstâncias excepcionais e por métodos que não se acham ao alcance de qualquer um. É, pois, quase certo que jamais poderei saber o que sentem sir John Falstaff ou Joe Louis. Por outro lado, sempre me pareceu possível que, por meio do hipnotismo, do auto-hipnotismo, da meditação sistemática, ou ainda pela ação de uma droga apropriada, eu pudesse modificar de tal forma minha percepção normal que fosse capaz de compreender, por mim mesmo, a linguagem do visionário, do médium e até do místico."
Aquela época foi a pior, e melhor, da minha vida. Morar só e onde não tinha nada e ninguém, além da esperança e eu mesma. Até hoje me pergunto como sobrevivi, e dentre os motivos você não fez parte.
E descobrir isso da maneira brutal, que estamos só mesmo que a mentira de não estar seja forte, foi o que me fez aguentar tanto.
ps.: "As Portas da Percepção (no original em inglês, The Doors of Perception), um livro de 1954, escrito por Aldous Huxley, onde o autor pormenoriza as suas experiências alucinatórias quando tomou mescalina. O título provém de uma citação de William Blake:
"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."
"Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendência, debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias - tudo isso são coisas privadas e, a não ser através de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidos. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares. Muitos desses universos são suficientemente semelhantes uns aos outros para permitir entre eles uma compreensão por dedução, ou mesmo por mútua projeção de percepção. Assim, recordando nossos próprios infortúnios e humilhações podemos nos condoer de outras pessoas em circunstâncias análogas; somos até capazes de nos pormos em seu lugar (sempre, evidentemente, em sentido figurado). Mas em certos casos a ligação entre esses universos é incompleta, ou mesmo inexistente. A mente é o seu campo, porém os lugares ocupados pelo insano e pelo gênio são tão diferentes daqueles onde vivem o homem e a mulher comuns que há pouco ou nenhum ponto de contato na memória de cada um para servir de base à compreensão ou a ligação entre eles. Falam, mas não se entendem. As coisas e fatos que símbolos se referem pertencem a reinos de experiências que se excluem mutuamente.
Contemplarmo-nos do mesmo modo pelo qual os outros nos vêem é uma das mais confortadoras dádivas. E não menos importante é o dom de vermos os outros tal como eles mesmo se encaram. Mas e se esses outros pertencerem a uma espécie diferente e habitarem um universo inteiramente estranho? Assim, como poderá o indivíduo, mentalmente são, sentir o que realmente sente o insano? Ou, na iminência de ser reencarnado na pessoa de um sonhador, um médium ou um gênio musical, como poderíamos algum dia visitar os mundos que para Blake, Swedenborg ou Johann Sebastian Bach eram seus lares? E como poderá alguém, que esteja nos limites extremos do ectomorfismo e da cerebrotonia, pôr-se no lugar de outrem que ocupa o limite oposto do endomorfismo e da viscerotonia ou (a não ser dentro de certas áreas restritas) compartilhar dos sentimentos de um terceiro que se situe no campo do mesomorfismo e da somatotonia? Para o behaviorista inflexível, tais proposições – suponho eu – são desprovidas de sentido. Mas para aqueles que aceitam, do ponto de vista teórico, aquilo que, na pratica, sabem ser verdade – isto é, que a experiência possui dois aspectos, um externo e outro interno -, os problemas apresentados são reais e tanto mais sérios por serem, alguns, inteiramente insolúveis, e outros só poderem ser resolvidos em circunstâncias excepcionais e por métodos que não se acham ao alcance de qualquer um. É, pois, quase certo que jamais poderei saber o que sentem sir John Falstaff ou Joe Louis. Por outro lado, sempre me pareceu possível que, por meio do hipnotismo, do auto-hipnotismo, da meditação sistemática, ou ainda pela ação de uma droga apropriada, eu pudesse modificar de tal forma minha percepção normal que fosse capaz de compreender, por mim mesmo, a linguagem do visionário, do médium e até do místico."
Aquela época foi a pior, e melhor, da minha vida. Morar só e onde não tinha nada e ninguém, além da esperança e eu mesma. Até hoje me pergunto como sobrevivi, e dentre os motivos você não fez parte.
E descobrir isso da maneira brutal, que estamos só mesmo que a mentira de não estar seja forte, foi o que me fez aguentar tanto.
ps.: "As Portas da Percepção (no original em inglês, The Doors of Perception), um livro de 1954, escrito por Aldous Huxley, onde o autor pormenoriza as suas experiências alucinatórias quando tomou mescalina. O título provém de uma citação de William Blake:
"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."
02 August 2010
Soneto de Agosto
Engraçado como a gente só enxerga aquilo que quer e da maneira que nos convém. E pensando sobre isso lembrei desse soneto do Vinícius de Moraes, que casa perfeitamente com a data e o tema.
Soneto de Agosto
Vinícius de Moraes
"Tu me levaste eu fui... Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.
Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.
Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco
Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco."
Soneto de Agosto
Vinícius de Moraes
"Tu me levaste eu fui... Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.
Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.
Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco
Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco."
28 July 2010
Ele pode estar olhando as suas fotos. Neste exato momento. Porque não? Passou-se muito tempo. Detalhes se perderam. E daí? Pode ser que ele faça todas as coisas que você faz. Escondida. Sem deixar rastro nem pistas. Talvez ele passe a mão na barba mal feita e sinta saudade do quanto você gostava disso. Ou percorra trajetos que eram seus, na tentativa de não deixar que você se disperse das lembranças. As boas. Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em você. Todos os dias. E ainda assim preferir o silêncio. Ele pode reler seus bilhetes, procurar o seu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as suas músicas, procurar a sua voz em outras vozes. Quem nos faz falta acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não há escape. Talvez ele perceba que você faz falta. E diferença. De alguma forma, numa noite fria. Você não sabe. Ele pode ser o cara com quem passará aquele tão sonhado verão em Paris. Talvez ele volte. Ou não.
Fonte: http://sweetestpersonblog.com/
11 July 2010
Stone Temple Pilots - Sour Girl
Fiz as pazes com o Last.fm agora que a extensão para youtube do scrobbler pro chrome realmente funciona \o/
02 July 2010
Something I Can Never Have
Tem daquelas coisas que ficam no passado.
E tem daquelas que é pra vida toda.
Nine inch nails é uma dessas.
"You always were the one to show me how
Back then i couldn't do the things that i can do now
This thing is slowly take me apart
Gray would be the color if i had a heart"
E tem daquelas que é pra vida toda.
Nine inch nails é uma dessas.
"You always were the one to show me how
Back then i couldn't do the things that i can do now
This thing is slowly take me apart
Gray would be the color if i had a heart"
01 June 2010
Bandeira
Finzinho de outono sempre bate aquela nostalgia gostosa, e burra, de sentir falta de quase tudo que passou (minha memória sempre foi seletiva, basicamente lembro do quero, o que foi bom, de coisa ruim eu quero distância!).
O friozinho leve traz aqueles arrepios que parecem tanto com paixão nova, a vontade de se aninhar no outro e incendiar a rotina. De cometer as loucuras de quando a idade deixava e a vergonha não era algo que incomodava.
Acho que vivo sempre meio no passada, flutuando nas coisas que foram e ficaram por ser. O que deu certo a vontade é reviver até exaurir. Os dias de sol, as noites não-tão-frias, as danças, as músicas, as mãos, os bilhetes em guardanapos...
O que deu errado, de resolver e deixar a folha em branco, sem mais manchas, porque o importante, pelo menos agora, não foi a dor que causou, mas a cicatriz que lateja de vez em quando e não se deixa esquecer das feridas antigas.
E do que não foi fica o sonho do que poderia ter sido, a paixão guardada, os sonhos, os suspiros, as lembranças e a eternidade na nossa cabeça.
É isso, essa nostalgia é aquilo que sempre faltou, e que quando não faltou foi rápido demais. É a falta do que nunca soube ser. Essas partes de mim que foram deixadas em alguns cantos, e que algumas coisas tem o poder de trazer em voga. Marcela e suas excentricidades, a intensidade, a teimosia, as paixões perversas, o desejo, a auto-destruição. Eu gostava dela, alcançava o que eu desisti.
Antes eu precisava de algo visual pra desencadear lembranças - fotos, ou ver alguém em algum lugar. Agora que esses ganchos visuais estão longe - não mais tenho fotos onde moro, estou no meu presente e ele me pediu pra deixar o passado, como se isso fosse possível - são poucas coisas que trazem essa nostalgia gostosa, uma música que fica na minha cabeça por dias, um sonho. Um fim-de-tarde, ou um domingo de sol. Sério, domingos. Ou um programa de TV em determinado horário - e eu nem vejo mais TV.
Aí passa, tudo passa. Mas como diz o Caio, alguma coisa sempre faz falta.
Não pretendo nada, mas essa é a fuga que me permito ter, voltar pra dentro de mim.
"Guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo."
"A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pêlos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções"
ps.: Caio Fernando Abreu é foda. Foda.
O friozinho leve traz aqueles arrepios que parecem tanto com paixão nova, a vontade de se aninhar no outro e incendiar a rotina. De cometer as loucuras de quando a idade deixava e a vergonha não era algo que incomodava.
Acho que vivo sempre meio no passada, flutuando nas coisas que foram e ficaram por ser. O que deu certo a vontade é reviver até exaurir. Os dias de sol, as noites não-tão-frias, as danças, as músicas, as mãos, os bilhetes em guardanapos...
O que deu errado, de resolver e deixar a folha em branco, sem mais manchas, porque o importante, pelo menos agora, não foi a dor que causou, mas a cicatriz que lateja de vez em quando e não se deixa esquecer das feridas antigas.
E do que não foi fica o sonho do que poderia ter sido, a paixão guardada, os sonhos, os suspiros, as lembranças e a eternidade na nossa cabeça.
É isso, essa nostalgia é aquilo que sempre faltou, e que quando não faltou foi rápido demais. É a falta do que nunca soube ser. Essas partes de mim que foram deixadas em alguns cantos, e que algumas coisas tem o poder de trazer em voga. Marcela e suas excentricidades, a intensidade, a teimosia, as paixões perversas, o desejo, a auto-destruição. Eu gostava dela, alcançava o que eu desisti.
Antes eu precisava de algo visual pra desencadear lembranças - fotos, ou ver alguém em algum lugar. Agora que esses ganchos visuais estão longe - não mais tenho fotos onde moro, estou no meu presente e ele me pediu pra deixar o passado, como se isso fosse possível - são poucas coisas que trazem essa nostalgia gostosa, uma música que fica na minha cabeça por dias, um sonho. Um fim-de-tarde, ou um domingo de sol. Sério, domingos. Ou um programa de TV em determinado horário - e eu nem vejo mais TV.
Aí passa, tudo passa. Mas como diz o Caio, alguma coisa sempre faz falta.
Não pretendo nada, mas essa é a fuga que me permito ter, voltar pra dentro de mim.
"Guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo."
"A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pêlos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções"
ps.: Caio Fernando Abreu é foda. Foda.
10 May 2010
Você acharia bobo se visse como eu imagino o quê um dia poderíamos ter sido. As coisas que fariamos juntos, todos clichês, todos fins de tarde num parque deitados no chão, rindo como se o mundo fosse somente aquilo: eu e você felizes por estarmos exatamente onde queríamos estar.
Todas as noites frias em que dormiríamos abraçados, ou de como eu riria dos seus cabelos bagunçados ao acordar, ou do dia em que eu iria tentar te barbear e você secretamente teria medo de que eu te cortasse.
Das coisas pequenas, dos desastres na cozinha e jantares não-programados, de como teríamos um ao outro e mesmo longe do resto não nos sentiríamos sozinhos.
Todas as cenas que nunca se concretizaram, todas as músicas que nunca ouvimos juntos, mas que mandamos um para o outro.
Dos filmes no sofá, das guerras de pipoca, de rolar no tapete fazendo cócegas um no outro, dos beijos, dos cheiros, eu sinto falta de tudo.
Desse futuro inventado que teria sido nossa história.
O que mais dói é saber que eu não quis tudo isso sozinha. E o quanto eu e você sempre pareceu tão certo.
Todas as noites frias em que dormiríamos abraçados, ou de como eu riria dos seus cabelos bagunçados ao acordar, ou do dia em que eu iria tentar te barbear e você secretamente teria medo de que eu te cortasse.
Das coisas pequenas, dos desastres na cozinha e jantares não-programados, de como teríamos um ao outro e mesmo longe do resto não nos sentiríamos sozinhos.
Todas as cenas que nunca se concretizaram, todas as músicas que nunca ouvimos juntos, mas que mandamos um para o outro.
Dos filmes no sofá, das guerras de pipoca, de rolar no tapete fazendo cócegas um no outro, dos beijos, dos cheiros, eu sinto falta de tudo.
Desse futuro inventado que teria sido nossa história.
O que mais dói é saber que eu não quis tudo isso sozinha. E o quanto eu e você sempre pareceu tão certo.
21 April 2010
Dunce - Voltaire
I break the silence with my voice
and everyone turns around
to see the source of all the noise
and here i stand
its not as thought i mean to upset you
with the things i say and do
i should know better but i said so anyway
its easier to play a part
and read your lines
than freely speak what's
in your heart and in your mind
Is it me?
who says these things that so offend you?
Innapropriate and loud
i'd say I'm sorry
but it's hard to speak
with both feet in your mouth
all hail the king of dunces
You best hold on
I'm opening up my mouth
bring out the maypole
and tie up and shut me out
devil knows what possessed me
to shoot my arrow straight into the sky
string me to the mast and
hoist me up and hang me high
i put no blame on you
i brought this all upon myself
it's just this thing i do
at times like this
i wish i was someone else
there's a lever inside head
between my mouth and my brain
keeps me from hearing
what i've said until its too late
now it's too late
smear my lips with vaseline
because i'm a vocal libertine
I try to explain but even
i'm not quite sure what i mean
all hail the king of dunces
You best hold on
I'm opening up my mouth
bring out the maypole
and tie up and shut me out
devil knows what possessed me
to shoot my arrow straight into the sky
string me to the mast and
hoist me up and hang me high
i put no blame on you
i brought this all upon myself
it's just this thing i do
at times like this
i wish i was someone else
I don't know what to say
i was only trying to make you smile
and bring some needed levity
to your world for a while
i never meant to make you cry
but i did it all by myself
its just this thing i do
at times like this
i wish i was someone else
All hail the king of dunces
You best hold on
I'm opening up my mouth
bring out the maypole
and tie up and shut me out
devil knows what possessed me
to shoot my arrow straight into the sky
string me to the mast and
hoist me up and hang me high
All hail the king of fools
This boy's been bad
let's keep him after school
send me to the blackboard
and write a hundred times "i am the dunce"
devil knows what possessed me
to shut my mind and open up my mouth
string me to the anchor
and watch me drown in myself
13 April 2010
Eu mando mensagens secretas pelo meu I Heart It. Obviamente lá tem muitas besteiras, coisas minhas e que gosto (e que na maioria das vezes gostaria de te mostrar).
É quase meu próprio Post Secret (mas você precisa ter paciência, e adivinhar, para descobrir quais mensagens são suas).
http://weheartit.com/aggressive
estranho como fico mais nostálgica quando o tempo começa a esfriar.
20 February 2010
Hoje levantei no meio da madrugada porque sonhei com tudo aquilo que nunca tive, e o pouco que consegui também.
É bom, quase que demais, lembrar daquela noite. Da necessidade que não respondia à razão, ou bom senso.
Das sensações e emoções que até hoje nunca esqueci, e que daria tudo pra ter novamente.
Um dia garoto, você deixa de ser garoto e eu te pego.
Aí você vai ver o que os anos esperando por você fizeram comigo.
No seu lugar eu teria no mínimo medo. Ou não poderia mais esperar por isso.
Provavelmente ambos.
Na verdade é o que sinto.
É bom, quase que demais, lembrar daquela noite. Da necessidade que não respondia à razão, ou bom senso.
Das sensações e emoções que até hoje nunca esqueci, e que daria tudo pra ter novamente.
Um dia garoto, você deixa de ser garoto e eu te pego.
Aí você vai ver o que os anos esperando por você fizeram comigo.
No seu lugar eu teria no mínimo medo. Ou não poderia mais esperar por isso.
Provavelmente ambos.
Na verdade é o que sinto.
03 February 2010
Eu queria ter te falado toda verdade. Não que algum dia eu tenha mentido para você, mas ocultei muito. Queria dizer o quanto doía, e dói, estar longe e o quanto isso é estranho, por nunca ter estado perto de verdade, tudo sempre ocorreu dentro da minha cabeça.
Queria ter feito tudo que queria, mesmo que contra sua vontade quando pude, porque hoje não posso mais. Porque hoje há um sentimento tão grande e tão vazio que nem nome tem. Eu faria tudo pelo tentar novamente.
Queria te contar o quanto é díficil não falar seu nome quando estou adormecendo, porque é em você que penso sempre antes de dormir, a hora mais complicada e dolorida do meu dia, cheia de ses e talvez. E sempre tento manipular meus sonhos para que você esteja neles.
Ah se eu pudesse ser ainda mais direta que já fui. Mas acho que isso pode doer em você. E não quero isso. Mas queria mais que falar, queria poder fazer. São anos com isso, e anos com ilusões. Minha imaginação nunca parou de parir idéias para o nós que nunca fomos.
Queria ter direito de sentir o que sinto por você. E o direito de concretizar o que acho que sentimos um pelo outro.
Queria ter feito tudo que queria, mesmo que contra sua vontade quando pude, porque hoje não posso mais. Porque hoje há um sentimento tão grande e tão vazio que nem nome tem. Eu faria tudo pelo tentar novamente.
Queria te contar o quanto é díficil não falar seu nome quando estou adormecendo, porque é em você que penso sempre antes de dormir, a hora mais complicada e dolorida do meu dia, cheia de ses e talvez. E sempre tento manipular meus sonhos para que você esteja neles.
Ah se eu pudesse ser ainda mais direta que já fui. Mas acho que isso pode doer em você. E não quero isso. Mas queria mais que falar, queria poder fazer. São anos com isso, e anos com ilusões. Minha imaginação nunca parou de parir idéias para o nós que nunca fomos.
Queria ter direito de sentir o que sinto por você. E o direito de concretizar o que acho que sentimos um pelo outro.
13 November 2009
I wanted someone to enter my life like a bird that comes into a kitchen and starts breaking things and crashes with doors and windows leaving chaos and destruction.
This is why I accepted her kisses as someone who has been given a leaflet at the subway.
I knew, don't ask me why or how, that we were gonna share even our toothpaste.
We got to know each other by caressing each other's scars, avoiding getting too close to know too much.
We wanted happiness to be like a virus that reaches every place in a sick body.
I turned my home into a water bed and her breasts into dark sand castles.
She gave me her metaphors, her bottles of gin and her North Africa stamp collection.
At night we would talk in dreams, back to back and we would always, always, agree.
The sheets were so much like our skin that we stopped going to work.
Love became a strong big man with us, terribly handy, a proper liar, with big eyes and red lips.
She made me feel brand new.
I watch her get fucked up, lose touch, we listened to Nick Drake in her tape recorder and she told me she was a writer.
I read her book in two and a half hours and cried all the way through as watching Bambi.
She told me that when I think she has loved me all she could, she was gonna love me a little bit more.
My ego and her cynicism got on really well and we would say "what would you do in case I died" or "what if I had Aids ?" or "don't you like the Smiths" or "let's shag now".
We left our fingerprints all around my room, breakfast was automatically made, and if it would come to bed in a trolley, no hands.
We did compete to see who would have the best orgasms, the nicer visions, the biggest hangovers.
And if she came pregnant we decided it would be God hand's fault.
The world was our oyster.
Life was life.
But then she had to go back to London, to see her boyfriend and her family and her best friends and her pet called "Gus".
And without her I've been a mess.
I've painted my nails black and got my hair cut.
I open my pictures collection and our past can be limitless and I know the process is to slice each section of my story thinner and thinner until I'm left only with her.
I've felt like shite all the time no matter who I kiss or how charming I try to be with my new birds.
This is the point, isn't it ?
New birds that will project me along a wire from the underground into the air, into the world.
This is why I accepted her kisses as someone who has been given a leaflet at the subway.
I knew, don't ask me why or how, that we were gonna share even our toothpaste.
We got to know each other by caressing each other's scars, avoiding getting too close to know too much.
We wanted happiness to be like a virus that reaches every place in a sick body.
I turned my home into a water bed and her breasts into dark sand castles.
She gave me her metaphors, her bottles of gin and her North Africa stamp collection.
At night we would talk in dreams, back to back and we would always, always, agree.
The sheets were so much like our skin that we stopped going to work.
Love became a strong big man with us, terribly handy, a proper liar, with big eyes and red lips.
She made me feel brand new.
I watch her get fucked up, lose touch, we listened to Nick Drake in her tape recorder and she told me she was a writer.
I read her book in two and a half hours and cried all the way through as watching Bambi.
She told me that when I think she has loved me all she could, she was gonna love me a little bit more.
My ego and her cynicism got on really well and we would say "what would you do in case I died" or "what if I had Aids ?" or "don't you like the Smiths" or "let's shag now".
We left our fingerprints all around my room, breakfast was automatically made, and if it would come to bed in a trolley, no hands.
We did compete to see who would have the best orgasms, the nicer visions, the biggest hangovers.
And if she came pregnant we decided it would be God hand's fault.
The world was our oyster.
Life was life.
But then she had to go back to London, to see her boyfriend and her family and her best friends and her pet called "Gus".
And without her I've been a mess.
I've painted my nails black and got my hair cut.
I open my pictures collection and our past can be limitless and I know the process is to slice each section of my story thinner and thinner until I'm left only with her.
I've felt like shite all the time no matter who I kiss or how charming I try to be with my new birds.
This is the point, isn't it ?
New birds that will project me along a wire from the underground into the air, into the world.
12 October 2009
Queria reprimir esses pensamentos repetidos de desistir de tudo, já que nada dá certo, nunca, não para mim.
Minha felicidade sempre foi baseada em mentiras bonitas, minha paz sempre foi fundada apenas no oposto do sofrimento, no amortecimento, num estado de anestesia entre as turbulências.
Não quero mais tentar nada, nem quero mais alcançar. Queria me deitar confortavelmente e esquecer, dormir. Não quero mais ter que fazer nada e fracassar de novo, e de novo. Quantas vezes a gente pode desmoronar e se refazer? Quanto a gente sobrevive ao inóspito e à rejeição, a traição?
Não quero mais.
Minha felicidade sempre foi baseada em mentiras bonitas, minha paz sempre foi fundada apenas no oposto do sofrimento, no amortecimento, num estado de anestesia entre as turbulências.
Não quero mais tentar nada, nem quero mais alcançar. Queria me deitar confortavelmente e esquecer, dormir. Não quero mais ter que fazer nada e fracassar de novo, e de novo. Quantas vezes a gente pode desmoronar e se refazer? Quanto a gente sobrevive ao inóspito e à rejeição, a traição?
Não quero mais.
09 October 2009
04 October 2009
Eternal Sunshine of the Spotless Mind
- Você não entende. Não é que ainda tenha restado algo do que era ruim, não que eu já não tenha superado, esquecido, perdoado. Eu apenas não quero mais.
- Isso é novo. Eu não sou mais o mesmo, você também não. Você não sabe o que é.
- Não sei. Mas sinto que não quero saber dessa maneira. Lembra quando tudo aconteceu?
- Lembro.
- Eu só queria destruir tudo ao meu redor, e hoje, agora, eu quero novamente destruir. Só que não tenho mais nenhuma esperança que as coisas um dia vão dar certo, ou melhorar.
- Isso não é verdade.
- Para mim é.
- Deixa eu te ajudar como você um dia me ajudou?
- Se você quer tanto, me dê em doses homeopáticas. Eu jamais aceitaria outro tratamento de choque. Talvez eletrochoque, apenas. Li numa dessas revistas científicas que apaga a memória. Daria minha vida por uma memória nova.
- Eu te fiz isso?
- Eu me fiz isso.
- Isso é novo. Eu não sou mais o mesmo, você também não. Você não sabe o que é.
- Não sei. Mas sinto que não quero saber dessa maneira. Lembra quando tudo aconteceu?
- Lembro.
- Eu só queria destruir tudo ao meu redor, e hoje, agora, eu quero novamente destruir. Só que não tenho mais nenhuma esperança que as coisas um dia vão dar certo, ou melhorar.
- Isso não é verdade.
- Para mim é.
- Deixa eu te ajudar como você um dia me ajudou?
- Se você quer tanto, me dê em doses homeopáticas. Eu jamais aceitaria outro tratamento de choque. Talvez eletrochoque, apenas. Li numa dessas revistas científicas que apaga a memória. Daria minha vida por uma memória nova.
- Eu te fiz isso?
- Eu me fiz isso.
25 September 2009
Obsession by Charles Baudelaire
Forest, I fear you! In my ruined heart
your roaring wakens the same agony
as in cathedrals when the organ moans
and from the depths I hear that I am damned.
Ocean, I hate you! for I recognize
the sobs and insults of my own despair
the bitter laughter of a beaten man
repeated in the sea's huge gaity.
Night! you'd please me more without these stars
which speak a language I know all to well -
I long for darkness, silence, nothing there....
Yet even shadows have their shapes which live
where I imagine them to be, the hordes
of vanished souls whose eyes acknowledge mine.
your roaring wakens the same agony
as in cathedrals when the organ moans
and from the depths I hear that I am damned.
Ocean, I hate you! for I recognize
the sobs and insults of my own despair
the bitter laughter of a beaten man
repeated in the sea's huge gaity.
Night! you'd please me more without these stars
which speak a language I know all to well -
I long for darkness, silence, nothing there....
Yet even shadows have their shapes which live
where I imagine them to be, the hordes
of vanished souls whose eyes acknowledge mine.
21 September 2009
Pensei que tinha acabado, esgotado, passado do tempo, vencido o prazo de validade.
Mas não.
Não importa, se sou eu ou você, não importa.
Continuam os ecos e continuam os 'se'.
Não importa a cama, ou os livros, ou as músicas, ou o lugar.
Continua e parece que nada muda.
Nem a espera, nem o frio, nem as mãos esticadas para um céu vazio.
Continua até onde tiver que continuar.
E eu queria tanto que acabasse de um vez.
Mas não.
Não importa, se sou eu ou você, não importa.
Continuam os ecos e continuam os 'se'.
Não importa a cama, ou os livros, ou as músicas, ou o lugar.
Continua e parece que nada muda.
Nem a espera, nem o frio, nem as mãos esticadas para um céu vazio.
Continua até onde tiver que continuar.
E eu queria tanto que acabasse de um vez.
28 August 2009
Delusion angel
by David Jewel
Daydream, delusion, limousine, eyelash
Oh baby with your pretty face
Drop a tear in my wineglass
Look at those big eyes
See what you mean to me
Sweet-cakes and milkshakes
I'm delusion angel
I'm fantasy parade
I want you to know what I think
Don't want you to guess anymore
You have no idea where I came from
We have no idea where we're going
Latched in life
Like branches in a river
Flowing downstream
Caught in the current
I'll carry you
You'll carry me
That's how it could be
Don't you know me?
Don't you know me by now?
by David Jewel
Daydream, delusion, limousine, eyelash
Oh baby with your pretty face
Drop a tear in my wineglass
Look at those big eyes
See what you mean to me
Sweet-cakes and milkshakes
I'm delusion angel
I'm fantasy parade
I want you to know what I think
Don't want you to guess anymore
You have no idea where I came from
We have no idea where we're going
Latched in life
Like branches in a river
Flowing downstream
Caught in the current
I'll carry you
You'll carry me
That's how it could be
Don't you know me?
Don't you know me by now?
07 August 2009
We are always late, never in time
Poderia te explicar por que tanta coisa, sendo você THE ONE.
Sempre foi, desde aquele dia.
Mas não vou, é desnecessário.
Sempre foi, desde aquele dia.
Mas não vou, é desnecessário.
04 August 2009
Estava pensando na sua pergunta: se talvez teria dado certo.
E penso que sim, talvez teria dado certo, por um motivo simples: A gente se completaria no que falta um ao outro.
Sou muito corajosa no ponto que lhe falta, de se entregar sem medo, de ser incondicional, de ter tanto a oferecer, de não ter medo do talvez, de acreditar no outro. E você é no que me falta, na coragem de mudar, de se jogar no desconhecido, no mundo, onde eu tenho medo exatamente pela falta do outro, que não costumo temer. Talvez teria dado certo porque seriamos o que o outro precisa, no momento mais necessário.
É apenas uma teoria. Mas achei perfeita quando pensei. Foi um belo insight.
Não sei o que me levou a ficar presa a isso tudo por tanto tempo, mas ainda hoje, agora, em face a impossibilidade, ainda me sinto presa, necessitando de pontos finais e de um adeus que nunca quis dar. Faço um esforço enorme para não pensar nisso, para não sucumbir. Até porque seria impossível.
Não que eu não deseje o impossível, mas sinto a inevitabilidade, o nunca mais que sempre temi, o frêmito do que poderia, ainda mais que hoje eu achei que poderia ter dado certo pelos motivos mais simples, nossos defeitos se completando.
Estou tentando ao máximo deixar minha dramatização para trás, no passado, mas tem horas que não consigo. É por demais intrínseco a mim. Quando penso nos 'se' e nos 'quase' sinto falta de tudo que não pude viver, e nem dividir. De não poder ficar ao seu lado e dormir, de não poder decorar seus traços com as pontas dos meus dedos, de não rir de algo bobo, ou de nunca te sentado na grama, olhando a lua e deitar minha cabeça no seu peito. Das coisas pequenas, dos atos do cotidianos e inesperados. De nunca ter conseguido me despedir, de poder dar o adeus que neguei.
"A pele é de uma doçura suntuosa. O corpo. O corpo é magro, sem forças, sem músculos, podia ser o corpo de um doente, de um convalescente, ele é imberbe, sua única virilidade é a do sexo, é muito fraco, parece estar à mercê de um insulto, parece sofrer. Ela não olha para o rosto. Não olha. Só o toca. Toca a doçura do sexo, da pele, acaricia a cor dourada, a novidade desconhecida. Ele geme, chora. Dominado por um amor abominável."
E penso que sim, talvez teria dado certo, por um motivo simples: A gente se completaria no que falta um ao outro.
Sou muito corajosa no ponto que lhe falta, de se entregar sem medo, de ser incondicional, de ter tanto a oferecer, de não ter medo do talvez, de acreditar no outro. E você é no que me falta, na coragem de mudar, de se jogar no desconhecido, no mundo, onde eu tenho medo exatamente pela falta do outro, que não costumo temer. Talvez teria dado certo porque seriamos o que o outro precisa, no momento mais necessário.
É apenas uma teoria. Mas achei perfeita quando pensei. Foi um belo insight.
Não sei o que me levou a ficar presa a isso tudo por tanto tempo, mas ainda hoje, agora, em face a impossibilidade, ainda me sinto presa, necessitando de pontos finais e de um adeus que nunca quis dar. Faço um esforço enorme para não pensar nisso, para não sucumbir. Até porque seria impossível.
Não que eu não deseje o impossível, mas sinto a inevitabilidade, o nunca mais que sempre temi, o frêmito do que poderia, ainda mais que hoje eu achei que poderia ter dado certo pelos motivos mais simples, nossos defeitos se completando.
Estou tentando ao máximo deixar minha dramatização para trás, no passado, mas tem horas que não consigo. É por demais intrínseco a mim. Quando penso nos 'se' e nos 'quase' sinto falta de tudo que não pude viver, e nem dividir. De não poder ficar ao seu lado e dormir, de não poder decorar seus traços com as pontas dos meus dedos, de não rir de algo bobo, ou de nunca te sentado na grama, olhando a lua e deitar minha cabeça no seu peito. Das coisas pequenas, dos atos do cotidianos e inesperados. De nunca ter conseguido me despedir, de poder dar o adeus que neguei.
"A pele é de uma doçura suntuosa. O corpo. O corpo é magro, sem forças, sem músculos, podia ser o corpo de um doente, de um convalescente, ele é imberbe, sua única virilidade é a do sexo, é muito fraco, parece estar à mercê de um insulto, parece sofrer. Ela não olha para o rosto. Não olha. Só o toca. Toca a doçura do sexo, da pele, acaricia a cor dourada, a novidade desconhecida. Ele geme, chora. Dominado por um amor abominável."
03 August 2009
Estava lendo Marguerite Duras, O Amante.
Gosto tanto desse livro. Ainda não sei porque, mas me faz pensar em várias coisas, na inércia, no topor. Me sinto dormente lendo, leve, irreal.
Gosto.
E me faz imaginar como seria. Penso nisso o tempo todo, há muito tempo. Odeio não ter controle sobre o que penso. Queria ter a determinação, a disciplina de não pensar em certas coisas, ainda mais quando elas são apenas devaneios e ecos. Quando não se pode mais fazer nada sobre isso, e alimentar esses pensamentos é apenas doloroso.
Quando leio o trecho que fala do apartamento em Cholen, eu imagino que talvez fosse daquela maneira. Tão doce que dói. Tão fatídico que haverá lágrimas apesar de tudo.
Gosto tanto desse livro. Ainda não sei porque, mas me faz pensar em várias coisas, na inércia, no topor. Me sinto dormente lendo, leve, irreal.
Gosto.
E me faz imaginar como seria. Penso nisso o tempo todo, há muito tempo. Odeio não ter controle sobre o que penso. Queria ter a determinação, a disciplina de não pensar em certas coisas, ainda mais quando elas são apenas devaneios e ecos. Quando não se pode mais fazer nada sobre isso, e alimentar esses pensamentos é apenas doloroso.
Quando leio o trecho que fala do apartamento em Cholen, eu imagino que talvez fosse daquela maneira. Tão doce que dói. Tão fatídico que haverá lágrimas apesar de tudo.
02 August 2009
Pergunte ao Pó
Pergunte ao Pó, do John Fante é um dos meus livros prediletos, mas a tradução do Paulo Leminski que fique claro. Essa última edição que saiu é uma merda. Acabou com todo ritmo e lirismo. Não é a mesma coisa. Não dá pra sentir as nuances de urgência e miséria absoluta. O pó do deserto soterrando tudo aos poucos...
Tem esse prólogo que não foi lançado aqui no Brasil, mas que é tão bonito...
Prologo de "PERGUNTE AO PÓ"
John Fante
Pergunte ao pó na estrada! Pergunte às árvores solitárias onde o Mojave começa. Pergunte a elas sobre Camilla Lopez, e elas sussurrarão seu nome. Sim, pois o último a ver minha garota Camilla Lopez foi um tuberculoso vivendo à beira do Mojave, e ela se dirigia ao Leste com um cachorro que dei a ela, e o cachorro chamava-se Pancho, e nunca ninguém viu Pancho de novo também. Você não acreditará nisso. Você não acreditará que uma garota se aventuraria no deserto do Mojave em Outubro sem nenhuma companhia exceto um cachorrinho policial chamado Pancho, mas aconteceu. Eu vi as pegadas do cachorro na areia, e vi as pegadas de Camilla ao lado das do cachorro, e ela nunca voltou para Los Angeles, sua mãe nunca a viu de novo e a não ser que um milagre tenha acontecido, ela está morta lá no Mojave hoje, e Pancho também. Não preciso criar um enredo para isso, meu segundo livro. Aconteceu comigo. Eu estava apaixonado por ela e ela me odiava e essa é a minha história.
Pergunte ao pó na estrada. Pergunte ao velho Junipero Serra no Plaza, sua estátua está lá, assim como as faixas na frente dele onde acendi fósforos, fumei cigarros e assisti a humanidade passar, eu, John Fante e Arturo Bandini, dois em um, amigo dos homens e bichos. Aqueles foram os dias! Eu vagava pelas ruas e as sugava e às pessoas nelas como um homem de mata-borrão. Arturo Bandini, com um conto vendido, grande escritor sonhando grandes planos. Ainda posso ver aquele cara, aquele Bandini, com uma revista de capa verde debaixo do braço, perpetuamente debaixo de seu braço, andando por essa cidade com uma tolerância gentil com homens e bichos, um filósofo, ele era, dos jovens, a história de um escritor que se apaixonou por uma garota de um bar e foi mandado embora.
Mas olha, deixa eu tentar contar a minha história. Me apaixonei por uma garota chamada Camilla Lopez. Entrei em um café em uma noite, e lá estava ela, e para sempre, até agora, esta noite, quando escrevo, engasgo quando penso na beleza daquela garota. Ela estava lá, ao meu lado, era uma garçonete em um boteco, me trouxe café e achei o café vagabundo e nós conversamos. Então voltei de novo e de novo, e logo estava tão loucamente apaixonado que me comportava como um bobo, e o tempo todo ela amava outro, ela amava um bartender no Liberty Buffet onde trabalhava, e o bartender não a suportava. Então ela saiu comigo para esquecê-lo, foi a todos os lugares comigo, e eu era maluco por ela, e piorei, e ela piorou pelo bartender. Começou a fumar maconha. Me ensinou a fumar. Pirou. Foi para um hospital psiquiátrico. Ficou lá por um mês. Saiu e eu a vi de novo. Ainda era apaixonada por Sammy, o Bartender. Ele não a tolerava. Ele não a tolerava porque ela era uma simples mexicana e ele era americano e ela estava abaixo dele, e essa é a história - isso é o tema de Ramona, mas dessa vez é um ítalo-americano contando, e ele, Bandini, é compreensivo com a garota, porque sabe como é esse negócio de preconceito social, e ele a ama loucamente e ela não o entende. Ele é um escritor. Ele está sozinho em Los Angeles. Ele escreve sonetos para essa garota. Ela lê os sonetos e joga-os na rua. Pergunte ao pó na rua, pergunte à serragem do Liberty Café, pergunte a maldita serragem suja naquele lugar e ela dirá que recebeu pedacinhos de papel e eles eram meus sonetos, porque ela não queria saber de mim, eu apenas a distraía, ela era louca pelo americano Sammy.
Você não acha que eu tenho uma novela? Ouça, droga, conheci Camilla e na primeira noite que estivemos na praia e nadamos nus, e ela nadou para longe, para além da rebentação na Baía de Santa Mônica, nós dirigimos até lá no carro dela, e nadamos, lá debaixo do luar, garota linda, Camilla linda, oh como eu amava aquela garota, e inferno, com que mão imunda ela me tratou, ela pensava que eu era um lunático, que dizia coisas engraçadas, ela nadou para longe, longe demais para uma garota normal, e naquele oceano gelado às duas da manhã, e quando a vi sob o luar, naquela primeira noite, tive um palpite de que ela era o tipo de garota que sucumbia sob pressão social, havia algo sensível e belo sobre hoje e sempre, garota maravilhosa, cabelos negros, pele creme, nadando ao luar, me desafiando a nadar até onde estava, e eu não fui, nadei um pouco e cansei e então ela veio e nos enrolamos em um cobertor na praia e fomos dormir - um casal de garotos nus, mas senti, deitando ao seu lado naquela hora - aquele sentimento de que jamais possuiria aquela garota, senti que de alguma forma ela era veneno e que jamais aconteceria, senti paixão sem desejo, senti sua estranheza, senti em mim com a certeza do peito de minha mãe, essa coisa devorando uma linda garota mexicana que pertencia àquela terra, sob aquele céu, e não era bem vinda. E eu, o compreensivo, o amante de homens e bichos, pergunte àquela areia ao longo da Baía de Santa Mônica se o grande Arturo Bandini foi tão grande amante naquela noite, não não não, porque sentia pena dela como um homem com pena de sua garotinha e não era paixão que sentia mas apenas desejo, e foi só o que houve. Então às cinco da manhã, com o sol subindo ao Leste, dirigimos até Wilshire e ela estava tão satisfeita por eu não tê-la tocado, estava dirigindo o carro, e disse uma coisa estranha e significativa, lembro das palavras exatas, disse, "Essa foi uma noite tão linda. Nunca acontecerá de novo." Mas lá estava eu sempre com a suspeita de ter agido como um bobo, não apenas naquela noite mas em todas as noites em que estive com ela, quando visitamos muitos lugares estranhos e fascinantes nessa grande cidade. Falo de Hollywood com seu blábláblá glamuroso inútil? Dos filmes? Falo de Bel Air e Lakeside? De Pasadena e seus picos quentes? - não e não mil vezes. Digo que este livro é sobre uma garota e um garoto em uma civilização diferente: isso é sobre Main Street e Spring Street e Bunker Hill, sobre essa cidade não longe de Figueroa, e ninguém famoso está neste livro e nada notório ou famoso será mencionado porque nada disso pertence a esse livro, ou estará por aqui muito mais tempo. Isso é Ramona ao contrário. É bom. É eu.
Então chamo ao meu livro "Pergunte ao Pó" por causa do pó do Leste e do Meio-Oeste nessas ruas, e é um pó onde nada crescerá, uma cultura sem raízes, uma miserável busca desesperada por entrinchamento, a fúria vazia de pessoas perdidas e desesperançadas, sedentas por alcançar uma terra que jamais pertencerá a elas. E uma garota desgarrada que pensava que os desesperados é que eram felizes, e que tentou ser um deles.
Arturo Bandini, eu, grande escritor, com um conto vendido para o American Mercury, a história sempre no meu bolso para provar meu sucesso enquanto eu andava pela Opera House e via os riquinhos entrando, às vezes escorregando da multidão para acidentalmente tocar um xale, só um cara passando, desculpe, moça, e pelas longas horas da noite eu pensava nela, imaginando quem seria - talvez até a heroína da minha grande novela, falando com ela enquanto as luzes do Hotel St. Paul piscavam vermelhas e verdes e jogavam cores em minha cama.
Aqueles foram os dias. Pergunte ao pó na estrada, pergunte às teias de aranha em meu quarto no St. Paul, aos ratos pelos cantos do quarto, ah, ratos tão amigáveis, eles eram meus bichos de estimação, porque eu falava com aqueles ratos. "Olá, rato, como está você esta noite, onde estão seus amigos?" Claro, um amigo dos homens e dos bichos, alimentando os ratos para torná-los meus amigos, um grande homem, uma alma generosa, leitor de Thoreau e Emerson, um grande futuro escritor que tinha de ser tolerante, espalhando migalhas para meus ratos comerem à noite com as luzes do St. Paul ligando e desligando e eu deitado olhando-os ir e vir, até que teve que acabar, eles se apegaram demais, eles subiam em minha cama e sentavam aos pés, nós éramos grandes amigos, mas droga eles se multiplicavam como chineses e o quarto era muito pequeno.
Falo como um lunático? Então me dê a demência, me dê aqueles dias de novo. Me dê uma novela excêntrica daquele que sentia pena da humanidade, grande pessoa Bandini, realizador de êxitos significativos, o dó de tudo, a cidade absurda à minha volta, sortuda madrasta do meu talento, e acima de Angel's Flight, duzentas escadas acima de Bunker Hill no meio da cidade, degraus consagrados, senhor, Bandini os escalou à imortalidade! Um dia, vocês pessoas, seus grunhidores-de-ãrrã, esses degraus badalarão com minha memória, e além daquela noite naquele muro alto haverá uma placa de ouro, e sobre ela um busto - a imagem do meu rosto. Estou sozinho agora? Pfff! Minha solidão traz frutos, e haverá uma Los Angeles de amanhã para lembrar que uma voz escalou esses degraus, e Benny, o Mecânico na esquina da Terceira com a Hill chorará de alegria enquanto conta a seus netos que um dia falou com um homem das eras. Daí para meu quarto, para conversar comigo mesmo no espelho. Ou talvez para praticar um pouco para meus dias de fama, para arrumar o espelho em um ângulo, para ver como fico sentado à minha máquina de escrever, o grande em pleno trabalho, respondendo perguntas para a imprensa, piscando pacientemente enquanto os flashes explodem. "Cavalheiros, cavalheiros! Por favor! Meus olhos, cavalheiros - afinal, eu também tenho meu trabalho, vocês sabem." Gargalhadas dos cavalheiros da imprensa. "Jesus, aquele Bandini, um bom sujeito, a fama não subiu à sua cabeça. Igual a qualquer um de nós, caras normais de jornal-realmente um bom sujeito."
Pergunte aos corredores empoeirados, pergunte ao saguão empoeirado, pergunte às pessoas empoeiradas no saguão empoeirado do St. Paul, as empoeiradas pessoas cansadas e velhas e prestes a se tornarem pó, aqui para morrer, os velhos caras, o pó de Indiana e Ohio e Illinois e Iowa em seu sangue, para empoeirar e morrer em uma terra desenraizada e empoeirada. Seis anos atrás e tantos já são pó, mas há alguns que lembrarão do grande escritor, nenhum pó em sua boca, na, na, nenhum pó em sua boca, grande mentiroso escritor falando sobre grandes histórias no Saturday Evening Post e provando com um conto em uma revista verde. Grande escritor, freqüentador de sebos empoeirados, levantando revistas empoeiradas e soprando o pó de sua amada história, comprando-as todas para que não se tornassem pó. Sim, pergunte ao pó na estrada.
Ho hi ho, grande escritor escrevendo cartas para a mamãe, grande escritor achando difícil, mas olha, mamãe, tenho uma história saindo no Atlantic, no pacífico, então mande cinco dólares, mamãe, mande cinco dólares. Então com cinco dólares, com dez dólares, grande escritor com a revista verde em uma espelunca falando com loira empoeirada, falando para a grande loira sobre dias melhores. Ela leu "Carissima Mia", de Arturo Bandini? Não, então que pena. Ela leu "Mea Culpa", de Arturo Bandini? Sim, ela leu. Estranho. Porque nunca foi escrito. Mas cinco dólares e dez dólares, lá do pó do Colorado, para ajudar o garoto da mamãe - mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.
Um livro falando de gente, empoeirada gente selvagem. A verdadeira Los Angeles, Bunker Hill, aquela parte da cidade abaixo de Figueroa, e Arturo Bandini sonhando com dias melhores. As pessoas que cruzaram seu caminho: Marcus, o vendedor de vinho, que me deu um emprego como lavador de pratos porque achava que eu escrevia séries para o SatEvePost. Senhora Adolph Lang com seus gordos peitos rosados que me ofereceu pois era a mãe de Deus e eu deveria repartir o leite da vida. Dave Myers, o comunista na esquina da Terceira com a Hill e sua perna aleijada de onde vendia maconha. As senhoras que eram Escolhidas de Deus e tinham que fazer sacrifícios com Sangue do Cordeiro, mas elas não tinham cordeiro, então mataram um belo gato siamês. O Crioulo gordo que levou Camilla e eu pelo negro e sinistro caminho para a Avenida Central e por umas escadas raquíticas para um quarto em um hotel abandonado onde homens e mulheres jaziam como mortos, e o Crioulo gordo jogando-os para fora das camas, abrindo os colchões e nos vendendo maconha das fendas nele. Mais tarde, em meu próprio quarto, fumamos a maconha. Um cigarro, nenhum efeito. Dois. O quarto turva. O corpo de Arturo flutua. Ele está acima do chão, uma polegada, duas. Para o alto e para o alto e oh, mundo absurdo, Camilla absurda, e Arturo riu e riu, mas Camilla não, sua boca amaciando, saliva branca como fios de seda grudados em sua boca lasciva, abrindo suavemente para dizer seu nome, Arturo, Arturo. Sim e amém. Coisa grande. Jesus, que novela! As duas lésbicas tocando piano no Embassy, tocando valsas de Strauss para Camilla enquanto Arturo fica puto e cospe cerveja no piano e no cabelo da violinista. Os pintores bêbados do estúdio acima, os pintores desesperançados, escola de S. McDonald Wright, o último vestígio de um movimento de pintura para unir o Leste e o Oeste. As centenas de clubes vagabundos na Quinta Avenida, cravejados de belas mulheres, garotas escrevendo para casa em Iowa e Indiana, contando que estavam acontecendo, acontecendo na cidade grande, pfff, elas não estavam acontecendo, estavam fodendo tudo e todos, filipinos e japas e crioulos em um lugar abundante em beleza excessiva. Ah, aqueles clubes, onde aprendi a vagar e perder tempo, às vezes com dinheiro de outro conto vendido, às vezes falido, freqüentemente pegando dinheiro emprestado das garotas.
A pobre caixa da igreja do velho Plaza, de onde roubei 60 centavos porque eu era pobre, não era? A pista de dança filipina onde os tiras davam batidas atrás de drogas, os tiras correndo, as luzes apagando, os tiras gritando e lutando loucamente na escuridão, e os filipinozinhos calmos escondidos nos cantos escuros, sacando suas lâminas com a rapidez de balas de metralhadora nas pontas de seus dedos e esfarrapando os rostos dos tiras.
Os fantásticos e os estranhos e os bonitos: um dia uma mulher bela demais para este mundo veio e em asas de perfume, não pude suportar, não pude me segurar e a segui, quem ela era eu nunca soube, mulher em uma pele de raposa vermelha e um chapeuzinho atrevido, andando atrás dela porque era melhor do que um sonho, vendo-a entrar no Bernstein¿s Fish Grotto, observando-a em transe pela janela a nadar com rãs e trutas enquanto comia e quando acabou o garoto entra no Grotto, senta-se na mesma cadeira em que ela sentou, toca o guardanapo que ela usou, porque ela era tão linda e - apenas uma tigela de sopa, garçom, não estou com muita fome, apenas uma tigela de sopa por quinze centavos. Amor em um instante, uma heroína de graça e por nada, para ser lembrada através da janela entre trutas e rãs.
A Fome de Hamsun, mas esta é uma fome de viver em uma terra de pó, fome de ver e fazer. Sim, A Fome de Hamsun. Clarence Melville, o veterano de guerra hispano-americano bêbado, morava ali na frente. Ele tinha um quarto mais barato, sem serviços. Ele também estava cansado de laranjas. Ele tinha um carro. Entramos nele uma noite. Ele sabia onde conseguir carne. Dirigimos até San Fernando. Estacionamos o carro. Rastejamos por baixo do arame farpado até o pasto. Andamos na ponta dos pés até o celeiro. Lá estava o bezerro. Clarence bateu-lhe na cabeça com uma marreta. Arrastamos a coisa ensangüentada até o carro e voltamos para Los Angeles. Arrastamos de volta para seu quarto. Deus, que noite aquela! O bezerro não morria, não importava o quão forte batíamos. Então o sangue no chão, no tapete, nas paredes, na banheira. Não comi nada daquilo. Sangue no saguão, e a polícia veio. Encontraram Clarence em seu quarto, carneando o bezerro. Ele pegou sessenta dias, e o tempo em que esteve em julgamento e preso, fiquei em meu quarto, passei boa parte do tempo rezando, não para Hamsun ou Heine, mas para Nosso Senhor Jesus Cristo. Salve-me, Senhor, sou inocente.
Pergunte a Camilla Lopez. Pergunte a ela. Conte a ele, Camilla. Conte a esse editor cabeça dura sobre nós. "Bom, olha só, meu nome é Camilla e Arturo me amava, e eu o achava tão bobo, ele me escrevia sonetos e eles não faziam sentido. Mostrei-os aos advogados bêbados no Liberty Buffet, e eles riram, então você vê que ele era bobo porque até os advogados riram. Uma vez eu falei, disse, Arturo, quero ser esperta como você. Então ele me comprou uma cartilha, isso foi logo que nos conhecemos, ele comprou uma cartilha e me disse para aprender cinco palavras por dia, e eu aprendi - no primeiro dia - mas ele não era como Sammy, o Bartender. Oh aquele Sammy! Que olhos tinha aquele Sammy, e ele era um homem, não um escritor bobo, não um maricas, e eu amava aquele Sammy, e ele me odiava, oh Deus ele me odiava. Porque eu era mexicana, ele me chamava de 'mexicanazinha', ele me chamava de 'sebosa', ele me magoava tanto. Mas ele! Esse Arturo, ele me disse para ter orgulho de ser mexicana, e até disse que os dóceis herdarão o mundo, Jesus, eu não queria o mundo, eu só queria o Sammy e joguei a cartilha na cara dele, porque gosto que homem seja homem, não gosto de homem que é só palavras, palavras, palavras, era tudo que ele era, esse Arturo, pergunte à cama onde dormimos, cinco vezes lhe dei sua chance, mas ele nunca me tocou e eu balancei meu cabelo e ri e disse, Arturo, você não é homem, tem algo errado com você, porque você não é homem. Mas eu nem queria ele mesmo, nem liguei, eu queria esquecer Sammy, e tinha Arturo na cama e ele estava chorando, dizendo que não sabia mas que não conseguia, ele me amava tanto, ele me amava tanto. Eu ia para seu quarto no St. Paul Hotel, jogava pedrinhas na sua janela, e ele me puxava pra dentro, e eu ficava, porque sabia que ele não me tocaria, então eu o odiava porque ele ficava falando que eu deveria ter orgulho de ser mexicana, daí eu o desafiei a me tocar, levantei meu vestido e joguei em sua cara e ele sabia tanto e era tão esperto com as palavras, ele corou e disse por favor, não faça essas coisas, Camilla. E quando fomos na galeria de tiro na Main e atiramos em pombos de argila, quantos eu derrubei? Todos! Todinhos. E ele? Ele errou todos! Não acertou em um - mas Sammy não era assim, Sammy também derrubava todos. Nós passeávamos de noite, Arturo e eu. Passeando pela Terminal Island, por San Pedro, e eu gostava de umas coisas malucas, como montar em um caminhão de óleo, mas o Arturo subia? Não ele não subia, não ele dizia que era absurdo, era assim que ele dizia, mas o caminhoneiro não achava, não, o caminhoneiro riu, e eu deixei o Arturo lá e voltei com o caminhoneiro. Então ele aparecia no Liberty depois daquilo, choramingando pra me ver e me dando um poema mas ele me deixava tão furiosa porque ele não era como Sammy, mesmo que Sammy me batesse, mesmo que Sammy me chamasse de mexicanazinha. Mas às vezes ele era fofo, às vezes ele me dava flores, me deu uma flor de cada vez e dizia que eram camélias, como meu nome, então eu acho que aprendi algo com ele afinal de contas, porque não sabia que aquelas florzinhas brancas e cor-de-rosa tinham o mesmo nome que o meu. Mas eu nem ligava muito, elas não tinham metade do cheiro bom das gardênias."
E eu, Bandini, destruído e rastejando no pó, para morrer logo. Então escreva uma carta de suicídio, Bandini, escreva uma das boas - uma das longas para Camilla. E assim foi feito, uma longa carta de suicídio escrita com um coração partido, as lágrimas caindo entre as teclas através da longa noite em que escreveu, então ele dormiu em sua cadeira e rastejou até a cama, cansado demais para cometer suicídio. E de manhã, no café, leu sua carta de suicídio e rapaz, era doce! Oh rapaz tudo que ele precisava era um título e achou e despachou pelo correio e em alguns dias havia um cheque e um bilhete do editor da revista verde: "Caro Bandini - esse é um dos melhores textos que já lemos. Estamos contentes em tê-lo e esperamos que nos mande mais. O cheque está em anexo."
Bandini, grande humorista, correndo Angel's Flight abaixo para mostrar a história para Camilla: olha, é maravilhosa, muito engraçada. Uma nova face do meu talento: sou um humorista! E ela leu e riu, e ele morreu a morte que esqueceu de morrer naquele noite, pois esperava que ela visse a tragédia, mas não, até ela achava engraçado.
Pó em minha boca, pó em minha alma, tão longe dos empoeirados para o mar verdinho, com uma garota de vestido verde para Long Beach para um quartinho em Long Beach olhando o mar, e a noite toda uma garrafa de gim e a garota vestida de verde, chamando-a de Camilla por engano, até que ela gritasse; "Pára de me chamar de Camilla! Meu nome é Doris, não Camilla." Dormindo com a de verde, fingindo ser Camilla, aquela noite inteira e o dia inteiro perto do mar - 200 por outra história e terei minha Camilla do meu jeito, porque eu te fiz Camilla do meu jeito. Aquele dia inteiro e no fim da tarde uma paralisia de morte sobre a terra, um silêncio sussurrado de pó enfurecido e de repente o quarto está oscilando, a casa está desmoronando, as paredes rugem, o pó sobe, as mulheres gritam por todos os lados e quando chegamos à rua nenhum pássaro voa, não há crepúsculo naquela tarde de março, apenas pó do terremoto e no pó e nas ruínas os mortos espalhados e eu entrei em pânico, a terra convulsionando de ódio pelos meus pecados, porque a terra me odiava e a todos nós, os mortos debaixo de lençóis ensangüentados nos gramados, os pássaros sumidos, e pó sobre a terra. Então correndo para Los Angeles, esperando que ela esteja morta, esperando que Camilla esteja entre aqueles que voltaram ao pó.
Mas um grande homem deve perdoar, então o grande homem sentou em seu quarto e ponderou sobre a alma atormentada de seu amor e condenou-se por sua vergonha - ela não era mais culpada que qualquer boa garota americana seria por gritar sua aversão pela vulgaridade e brutalidade da lower Main Street. Uma carta de desculpas era necessária, a ser escrita com palavras bem escolhidas e em pena e tinta sobre papel branco e simples, assinado com todos os floreios de uma assinatura cuidadosamente praticada. Antes tarde do que nunca, uma carta cuidadosa não admitindo seu grande amor e terminando com "cordialmente".
Mais algumas noites e de novo o barulho das pedrinhas na minha janela e ela estava lá embaixo sorrindo, ela perdoou e esqueceu e para provar sua generosidade, dormiu comigo enquanto eu revirava e estremecia de desejo sem paixão.
Então os dias trouxeram a mudança de Camilla, a perda de suas carnes, os olhos enevoados, a lassidão, as mentiras, mentiras, mentiras. A noite em que apareceu com um olho roxo: um acidente de carro, ela disse. Então Sammy pegou tuberculose e teve que ir para o deserto e ela o seguiu até lá e ele a repeliu, disse para que ficasse longe dele, que queria ficar sozinho e morrer sozinho na cabana que construíra à beira do deserto.
Sammy, meu inimigo, ele também tornou-se escritor e ela trouxe suas débeis histórias estúpidas para mim, ¿porque você é esperto, Arturo, você pode ajudar Sammy a virar um escritor.¿ E eu li e ri da diversão que teria destruindo-as em pedacinhos e foi o que fiz: três histórias que ele mandou e frase por frase eu as destruí em pedacinhos, disse que ele deveria ter continuado sendo bartender, mas um grande homem deve ser amigo dos homens e animais, então rasguei as cartas e as reescrevi, fazendo meu melhor, dando o que achei que seriam conselhos, e ele começou a me escrever do deserto, aquele Sammy estúpido, mas no fundo ele era um cara legal, um insignificante de sangue frio, sempre referindo-se a ela como ¿a mexicanazinha¿, contando que ela era uma bela trepada e que seria minha se a tratasse direito. ¿Trate-a mal, Bandini, trate-a como se fosse sujeira debaixo de seus pés, como o pó na estrada, chute-a e ela se enroscará em volta do seu pau e morrerá lá.¿ E esse era o cara que Camilla amava - esse era meu rival.
Então porque não? Segui o conselho de Sammy. Ela veio uma noite e Bandini estava esperando. ¿Olá, sua imbecil, de qual beco você veio dessa vez?¿ Seus olhos se arregalaram, seus lábios sorriram e ela ficou estranhamente quieta enquanto Bandini continuava: Estou ocupado aqui; se você veio para tomar meu tempo, cai fora. E funcionou! Então entendi que ela não queria ser tratada como uma rainha, como um amor de verdade, como o sonho de Cabell de mulher perfeita. Ela estava acostumada com rudeza e tinha medo de admiração. E isso me enojou, me deixou doente, e eu a expulsei, levei-a até a porta pelo braço e disse para que fosse embora e nunca voltasse. Ela foi embora delirando de desejo, pronta para cair no pó sob meus pés. Deus, que lamentável Bandini naquela noite, sua rainha preferindo ser uma escrava.
Então a noite em que fumamos maconha. No chão, pés, fiquem no chão, meus pés, mas eles flutuaram e eu estava a um palmo do chão, dois palmos e não conseguia descer e ela era tão absurda, seu corpo era tão fantástico, sua beleza era algo para se rir - e essa foi a noite de paixão sem desejo e uma sedução de Baudelaire e DeQuincey. Mas acabou tudo para nós, ela foi embora e eu deitei na cama e meu corpo não descia, mas à medida que o efeito passava, minha cabeça doía um pouco e senti algo que não sentia desde a infância, a necessidade de confissão, de castigo, de punição, porque eu tinha estragado um sonho e quebrado uma lei de Deus e dos homens. Ainda meus pés flutuavam, ainda aquele sentimento de estar fora da terra, ansiando retornar, e peguei um jarro de água, quebrei no chão e caminhei sobre os estilhaços de vidro até que o êxtase do castigo desbotasse e fraquejasse e que eu parasse antes de tombar. Essa foi a noite em que manquei até uma igrejinha católica na quadra mexicana e passei longas horas sentado em silêncio, tentando reorganizar minha vida, fazendo planos e promessas de ser um homem melhor. Sempre um homem melhor, essa era a idéia com Arturo Bandini, ser um grande homem, acima do pó da estrada, amante dos homens e dos bichos. Não mais pecar.
Os dias passaram e eu trabalhei duro e como sempre acontece comigo, quando trabalho duro há sucesso. Chega de Camilla, fiquei longe e ela não voltou para jogar pedrinhas na minha janela. Três meses se passaram e a sorte e o trabalho uniram-se subitamente para mudar o curso das coisas e uma peça que escrevi foi comprada pelo cinema e eu ganhei quase $10,000.
Então o grande homem compra novos ternos e perfuma-se e em um luxuoso coche volta à cena de suas batalhas anteriores, para conversar naturalmente com Benny, o Mecânico e dar-lhe cinco dólares para seus filhos. "Lembranças a sua esposa, Benny. Diga que lembro bem dela." Visitar Marcus, insistindo que devo-lhe 10 pratas, ele insistindo que não, forçando-o a aceitar, repreendendo-o por sua memória ruim, contente em pagar 10 dólares por tal triunfo, um homem honesto, um grande homem, acertando velhas contas.
Então a última parada. Mas ela não está lá, outra garota está em seu lugar e o mundo está subitamente solitário e o sucesso de Bandini é vazio e incompleto. Mas ela tem que saber. Se ELA não souber, então não aconteceu. Mas todos estão taciturnos e ninguém sabe o que aconteceu a ela. Um suborno para a nova garçonete e consegui seu endereço. Eu vou até lá, conheço sua mãe - uma mulher como a minha mãe, doce mulher de coração partido vivendo em um barraco na quadra mexicana, mulher de rosto trágico dizendo-me que Camilla foi levada para Patton, o hospício. Choramos por isso e vou embora para Patton, mas eles não me deixam vê-la. Um mês depois ela é solta e vejo uma garota fantasma, terror em seus olhos e a solidão machucando. Queria uma coisa de mim - será que eu compraria um cachorro pra ela? E assim foi feito. Nós o chamamos Pancho e ela estava feliz com ele e nada mais, dormindo com ele, falando com ele, garota fantasma cuja fantasmice era uma doença e com o passar dos dias Pancho também virou um fantasma, um cão estranho com o olhar faminto e solitário como o de sua dona. Sempre ela chorava, sentávamos embaixo de um eucalipto em seu jardim e as lágrimas incontáveis caíam, Pancho uivava e seus olhos também pungiam, e eu soube que ela ainda amava Sammy. Então um dia chegou uma carta dele do deserto, queria que eu fosse lá e a pegasse e seu maldito cachorro, ela rodeava sua cabana como um mendigo pedindo migalhas de amor, ele não a suportava, que eu fosse lá buscá-la. Dirigi 100 milhas até lá. Ela se foi. Seu ford amarelo detonado, os pneus murchos, estava estacionado na estrada poeirenta em uma floresta. Onde estava ela? Sammy não sabia. Ele a mandara embora, jogara pedras no cachorro, ele estava cheio dela e não queria nem saber. E é isso, ninguém sabe. Seu carro ainda está lá, desnudado de pneus, tudo removível foi roubado. Ela se foi, engolida pelo deserto. Talvez alguém tenha a recolhido e levado de volta para o México. Talvez ela tenha voltado para Los Angeles e morrido em um quarto empoeirado. Tudo que sei é que ela se foi, o cachorro se foi, e não sobrou nada além da sua história que eu quero contar.
Tradução: Clarah Averbuck
Tem esse prólogo que não foi lançado aqui no Brasil, mas que é tão bonito...
Prologo de "PERGUNTE AO PÓ"
John Fante
Pergunte ao pó na estrada! Pergunte às árvores solitárias onde o Mojave começa. Pergunte a elas sobre Camilla Lopez, e elas sussurrarão seu nome. Sim, pois o último a ver minha garota Camilla Lopez foi um tuberculoso vivendo à beira do Mojave, e ela se dirigia ao Leste com um cachorro que dei a ela, e o cachorro chamava-se Pancho, e nunca ninguém viu Pancho de novo também. Você não acreditará nisso. Você não acreditará que uma garota se aventuraria no deserto do Mojave em Outubro sem nenhuma companhia exceto um cachorrinho policial chamado Pancho, mas aconteceu. Eu vi as pegadas do cachorro na areia, e vi as pegadas de Camilla ao lado das do cachorro, e ela nunca voltou para Los Angeles, sua mãe nunca a viu de novo e a não ser que um milagre tenha acontecido, ela está morta lá no Mojave hoje, e Pancho também. Não preciso criar um enredo para isso, meu segundo livro. Aconteceu comigo. Eu estava apaixonado por ela e ela me odiava e essa é a minha história.
Pergunte ao pó na estrada. Pergunte ao velho Junipero Serra no Plaza, sua estátua está lá, assim como as faixas na frente dele onde acendi fósforos, fumei cigarros e assisti a humanidade passar, eu, John Fante e Arturo Bandini, dois em um, amigo dos homens e bichos. Aqueles foram os dias! Eu vagava pelas ruas e as sugava e às pessoas nelas como um homem de mata-borrão. Arturo Bandini, com um conto vendido, grande escritor sonhando grandes planos. Ainda posso ver aquele cara, aquele Bandini, com uma revista de capa verde debaixo do braço, perpetuamente debaixo de seu braço, andando por essa cidade com uma tolerância gentil com homens e bichos, um filósofo, ele era, dos jovens, a história de um escritor que se apaixonou por uma garota de um bar e foi mandado embora.
Mas olha, deixa eu tentar contar a minha história. Me apaixonei por uma garota chamada Camilla Lopez. Entrei em um café em uma noite, e lá estava ela, e para sempre, até agora, esta noite, quando escrevo, engasgo quando penso na beleza daquela garota. Ela estava lá, ao meu lado, era uma garçonete em um boteco, me trouxe café e achei o café vagabundo e nós conversamos. Então voltei de novo e de novo, e logo estava tão loucamente apaixonado que me comportava como um bobo, e o tempo todo ela amava outro, ela amava um bartender no Liberty Buffet onde trabalhava, e o bartender não a suportava. Então ela saiu comigo para esquecê-lo, foi a todos os lugares comigo, e eu era maluco por ela, e piorei, e ela piorou pelo bartender. Começou a fumar maconha. Me ensinou a fumar. Pirou. Foi para um hospital psiquiátrico. Ficou lá por um mês. Saiu e eu a vi de novo. Ainda era apaixonada por Sammy, o Bartender. Ele não a tolerava. Ele não a tolerava porque ela era uma simples mexicana e ele era americano e ela estava abaixo dele, e essa é a história - isso é o tema de Ramona, mas dessa vez é um ítalo-americano contando, e ele, Bandini, é compreensivo com a garota, porque sabe como é esse negócio de preconceito social, e ele a ama loucamente e ela não o entende. Ele é um escritor. Ele está sozinho em Los Angeles. Ele escreve sonetos para essa garota. Ela lê os sonetos e joga-os na rua. Pergunte ao pó na rua, pergunte à serragem do Liberty Café, pergunte a maldita serragem suja naquele lugar e ela dirá que recebeu pedacinhos de papel e eles eram meus sonetos, porque ela não queria saber de mim, eu apenas a distraía, ela era louca pelo americano Sammy.
Você não acha que eu tenho uma novela? Ouça, droga, conheci Camilla e na primeira noite que estivemos na praia e nadamos nus, e ela nadou para longe, para além da rebentação na Baía de Santa Mônica, nós dirigimos até lá no carro dela, e nadamos, lá debaixo do luar, garota linda, Camilla linda, oh como eu amava aquela garota, e inferno, com que mão imunda ela me tratou, ela pensava que eu era um lunático, que dizia coisas engraçadas, ela nadou para longe, longe demais para uma garota normal, e naquele oceano gelado às duas da manhã, e quando a vi sob o luar, naquela primeira noite, tive um palpite de que ela era o tipo de garota que sucumbia sob pressão social, havia algo sensível e belo sobre hoje e sempre, garota maravilhosa, cabelos negros, pele creme, nadando ao luar, me desafiando a nadar até onde estava, e eu não fui, nadei um pouco e cansei e então ela veio e nos enrolamos em um cobertor na praia e fomos dormir - um casal de garotos nus, mas senti, deitando ao seu lado naquela hora - aquele sentimento de que jamais possuiria aquela garota, senti que de alguma forma ela era veneno e que jamais aconteceria, senti paixão sem desejo, senti sua estranheza, senti em mim com a certeza do peito de minha mãe, essa coisa devorando uma linda garota mexicana que pertencia àquela terra, sob aquele céu, e não era bem vinda. E eu, o compreensivo, o amante de homens e bichos, pergunte àquela areia ao longo da Baía de Santa Mônica se o grande Arturo Bandini foi tão grande amante naquela noite, não não não, porque sentia pena dela como um homem com pena de sua garotinha e não era paixão que sentia mas apenas desejo, e foi só o que houve. Então às cinco da manhã, com o sol subindo ao Leste, dirigimos até Wilshire e ela estava tão satisfeita por eu não tê-la tocado, estava dirigindo o carro, e disse uma coisa estranha e significativa, lembro das palavras exatas, disse, "Essa foi uma noite tão linda. Nunca acontecerá de novo." Mas lá estava eu sempre com a suspeita de ter agido como um bobo, não apenas naquela noite mas em todas as noites em que estive com ela, quando visitamos muitos lugares estranhos e fascinantes nessa grande cidade. Falo de Hollywood com seu blábláblá glamuroso inútil? Dos filmes? Falo de Bel Air e Lakeside? De Pasadena e seus picos quentes? - não e não mil vezes. Digo que este livro é sobre uma garota e um garoto em uma civilização diferente: isso é sobre Main Street e Spring Street e Bunker Hill, sobre essa cidade não longe de Figueroa, e ninguém famoso está neste livro e nada notório ou famoso será mencionado porque nada disso pertence a esse livro, ou estará por aqui muito mais tempo. Isso é Ramona ao contrário. É bom. É eu.
Então chamo ao meu livro "Pergunte ao Pó" por causa do pó do Leste e do Meio-Oeste nessas ruas, e é um pó onde nada crescerá, uma cultura sem raízes, uma miserável busca desesperada por entrinchamento, a fúria vazia de pessoas perdidas e desesperançadas, sedentas por alcançar uma terra que jamais pertencerá a elas. E uma garota desgarrada que pensava que os desesperados é que eram felizes, e que tentou ser um deles.
Arturo Bandini, eu, grande escritor, com um conto vendido para o American Mercury, a história sempre no meu bolso para provar meu sucesso enquanto eu andava pela Opera House e via os riquinhos entrando, às vezes escorregando da multidão para acidentalmente tocar um xale, só um cara passando, desculpe, moça, e pelas longas horas da noite eu pensava nela, imaginando quem seria - talvez até a heroína da minha grande novela, falando com ela enquanto as luzes do Hotel St. Paul piscavam vermelhas e verdes e jogavam cores em minha cama.
Aqueles foram os dias. Pergunte ao pó na estrada, pergunte às teias de aranha em meu quarto no St. Paul, aos ratos pelos cantos do quarto, ah, ratos tão amigáveis, eles eram meus bichos de estimação, porque eu falava com aqueles ratos. "Olá, rato, como está você esta noite, onde estão seus amigos?" Claro, um amigo dos homens e dos bichos, alimentando os ratos para torná-los meus amigos, um grande homem, uma alma generosa, leitor de Thoreau e Emerson, um grande futuro escritor que tinha de ser tolerante, espalhando migalhas para meus ratos comerem à noite com as luzes do St. Paul ligando e desligando e eu deitado olhando-os ir e vir, até que teve que acabar, eles se apegaram demais, eles subiam em minha cama e sentavam aos pés, nós éramos grandes amigos, mas droga eles se multiplicavam como chineses e o quarto era muito pequeno.
Falo como um lunático? Então me dê a demência, me dê aqueles dias de novo. Me dê uma novela excêntrica daquele que sentia pena da humanidade, grande pessoa Bandini, realizador de êxitos significativos, o dó de tudo, a cidade absurda à minha volta, sortuda madrasta do meu talento, e acima de Angel's Flight, duzentas escadas acima de Bunker Hill no meio da cidade, degraus consagrados, senhor, Bandini os escalou à imortalidade! Um dia, vocês pessoas, seus grunhidores-de-ãrrã, esses degraus badalarão com minha memória, e além daquela noite naquele muro alto haverá uma placa de ouro, e sobre ela um busto - a imagem do meu rosto. Estou sozinho agora? Pfff! Minha solidão traz frutos, e haverá uma Los Angeles de amanhã para lembrar que uma voz escalou esses degraus, e Benny, o Mecânico na esquina da Terceira com a Hill chorará de alegria enquanto conta a seus netos que um dia falou com um homem das eras. Daí para meu quarto, para conversar comigo mesmo no espelho. Ou talvez para praticar um pouco para meus dias de fama, para arrumar o espelho em um ângulo, para ver como fico sentado à minha máquina de escrever, o grande em pleno trabalho, respondendo perguntas para a imprensa, piscando pacientemente enquanto os flashes explodem. "Cavalheiros, cavalheiros! Por favor! Meus olhos, cavalheiros - afinal, eu também tenho meu trabalho, vocês sabem." Gargalhadas dos cavalheiros da imprensa. "Jesus, aquele Bandini, um bom sujeito, a fama não subiu à sua cabeça. Igual a qualquer um de nós, caras normais de jornal-realmente um bom sujeito."
Pergunte aos corredores empoeirados, pergunte ao saguão empoeirado, pergunte às pessoas empoeiradas no saguão empoeirado do St. Paul, as empoeiradas pessoas cansadas e velhas e prestes a se tornarem pó, aqui para morrer, os velhos caras, o pó de Indiana e Ohio e Illinois e Iowa em seu sangue, para empoeirar e morrer em uma terra desenraizada e empoeirada. Seis anos atrás e tantos já são pó, mas há alguns que lembrarão do grande escritor, nenhum pó em sua boca, na, na, nenhum pó em sua boca, grande mentiroso escritor falando sobre grandes histórias no Saturday Evening Post e provando com um conto em uma revista verde. Grande escritor, freqüentador de sebos empoeirados, levantando revistas empoeiradas e soprando o pó de sua amada história, comprando-as todas para que não se tornassem pó. Sim, pergunte ao pó na estrada.
Ho hi ho, grande escritor escrevendo cartas para a mamãe, grande escritor achando difícil, mas olha, mamãe, tenho uma história saindo no Atlantic, no pacífico, então mande cinco dólares, mamãe, mande cinco dólares. Então com cinco dólares, com dez dólares, grande escritor com a revista verde em uma espelunca falando com loira empoeirada, falando para a grande loira sobre dias melhores. Ela leu "Carissima Mia", de Arturo Bandini? Não, então que pena. Ela leu "Mea Culpa", de Arturo Bandini? Sim, ela leu. Estranho. Porque nunca foi escrito. Mas cinco dólares e dez dólares, lá do pó do Colorado, para ajudar o garoto da mamãe - mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.
Um livro falando de gente, empoeirada gente selvagem. A verdadeira Los Angeles, Bunker Hill, aquela parte da cidade abaixo de Figueroa, e Arturo Bandini sonhando com dias melhores. As pessoas que cruzaram seu caminho: Marcus, o vendedor de vinho, que me deu um emprego como lavador de pratos porque achava que eu escrevia séries para o SatEvePost. Senhora Adolph Lang com seus gordos peitos rosados que me ofereceu pois era a mãe de Deus e eu deveria repartir o leite da vida. Dave Myers, o comunista na esquina da Terceira com a Hill e sua perna aleijada de onde vendia maconha. As senhoras que eram Escolhidas de Deus e tinham que fazer sacrifícios com Sangue do Cordeiro, mas elas não tinham cordeiro, então mataram um belo gato siamês. O Crioulo gordo que levou Camilla e eu pelo negro e sinistro caminho para a Avenida Central e por umas escadas raquíticas para um quarto em um hotel abandonado onde homens e mulheres jaziam como mortos, e o Crioulo gordo jogando-os para fora das camas, abrindo os colchões e nos vendendo maconha das fendas nele. Mais tarde, em meu próprio quarto, fumamos a maconha. Um cigarro, nenhum efeito. Dois. O quarto turva. O corpo de Arturo flutua. Ele está acima do chão, uma polegada, duas. Para o alto e para o alto e oh, mundo absurdo, Camilla absurda, e Arturo riu e riu, mas Camilla não, sua boca amaciando, saliva branca como fios de seda grudados em sua boca lasciva, abrindo suavemente para dizer seu nome, Arturo, Arturo. Sim e amém. Coisa grande. Jesus, que novela! As duas lésbicas tocando piano no Embassy, tocando valsas de Strauss para Camilla enquanto Arturo fica puto e cospe cerveja no piano e no cabelo da violinista. Os pintores bêbados do estúdio acima, os pintores desesperançados, escola de S. McDonald Wright, o último vestígio de um movimento de pintura para unir o Leste e o Oeste. As centenas de clubes vagabundos na Quinta Avenida, cravejados de belas mulheres, garotas escrevendo para casa em Iowa e Indiana, contando que estavam acontecendo, acontecendo na cidade grande, pfff, elas não estavam acontecendo, estavam fodendo tudo e todos, filipinos e japas e crioulos em um lugar abundante em beleza excessiva. Ah, aqueles clubes, onde aprendi a vagar e perder tempo, às vezes com dinheiro de outro conto vendido, às vezes falido, freqüentemente pegando dinheiro emprestado das garotas.
A pobre caixa da igreja do velho Plaza, de onde roubei 60 centavos porque eu era pobre, não era? A pista de dança filipina onde os tiras davam batidas atrás de drogas, os tiras correndo, as luzes apagando, os tiras gritando e lutando loucamente na escuridão, e os filipinozinhos calmos escondidos nos cantos escuros, sacando suas lâminas com a rapidez de balas de metralhadora nas pontas de seus dedos e esfarrapando os rostos dos tiras.
Os fantásticos e os estranhos e os bonitos: um dia uma mulher bela demais para este mundo veio e em asas de perfume, não pude suportar, não pude me segurar e a segui, quem ela era eu nunca soube, mulher em uma pele de raposa vermelha e um chapeuzinho atrevido, andando atrás dela porque era melhor do que um sonho, vendo-a entrar no Bernstein¿s Fish Grotto, observando-a em transe pela janela a nadar com rãs e trutas enquanto comia e quando acabou o garoto entra no Grotto, senta-se na mesma cadeira em que ela sentou, toca o guardanapo que ela usou, porque ela era tão linda e - apenas uma tigela de sopa, garçom, não estou com muita fome, apenas uma tigela de sopa por quinze centavos. Amor em um instante, uma heroína de graça e por nada, para ser lembrada através da janela entre trutas e rãs.
A Fome de Hamsun, mas esta é uma fome de viver em uma terra de pó, fome de ver e fazer. Sim, A Fome de Hamsun. Clarence Melville, o veterano de guerra hispano-americano bêbado, morava ali na frente. Ele tinha um quarto mais barato, sem serviços. Ele também estava cansado de laranjas. Ele tinha um carro. Entramos nele uma noite. Ele sabia onde conseguir carne. Dirigimos até San Fernando. Estacionamos o carro. Rastejamos por baixo do arame farpado até o pasto. Andamos na ponta dos pés até o celeiro. Lá estava o bezerro. Clarence bateu-lhe na cabeça com uma marreta. Arrastamos a coisa ensangüentada até o carro e voltamos para Los Angeles. Arrastamos de volta para seu quarto. Deus, que noite aquela! O bezerro não morria, não importava o quão forte batíamos. Então o sangue no chão, no tapete, nas paredes, na banheira. Não comi nada daquilo. Sangue no saguão, e a polícia veio. Encontraram Clarence em seu quarto, carneando o bezerro. Ele pegou sessenta dias, e o tempo em que esteve em julgamento e preso, fiquei em meu quarto, passei boa parte do tempo rezando, não para Hamsun ou Heine, mas para Nosso Senhor Jesus Cristo. Salve-me, Senhor, sou inocente.
Pergunte a Camilla Lopez. Pergunte a ela. Conte a ele, Camilla. Conte a esse editor cabeça dura sobre nós. "Bom, olha só, meu nome é Camilla e Arturo me amava, e eu o achava tão bobo, ele me escrevia sonetos e eles não faziam sentido. Mostrei-os aos advogados bêbados no Liberty Buffet, e eles riram, então você vê que ele era bobo porque até os advogados riram. Uma vez eu falei, disse, Arturo, quero ser esperta como você. Então ele me comprou uma cartilha, isso foi logo que nos conhecemos, ele comprou uma cartilha e me disse para aprender cinco palavras por dia, e eu aprendi - no primeiro dia - mas ele não era como Sammy, o Bartender. Oh aquele Sammy! Que olhos tinha aquele Sammy, e ele era um homem, não um escritor bobo, não um maricas, e eu amava aquele Sammy, e ele me odiava, oh Deus ele me odiava. Porque eu era mexicana, ele me chamava de 'mexicanazinha', ele me chamava de 'sebosa', ele me magoava tanto. Mas ele! Esse Arturo, ele me disse para ter orgulho de ser mexicana, e até disse que os dóceis herdarão o mundo, Jesus, eu não queria o mundo, eu só queria o Sammy e joguei a cartilha na cara dele, porque gosto que homem seja homem, não gosto de homem que é só palavras, palavras, palavras, era tudo que ele era, esse Arturo, pergunte à cama onde dormimos, cinco vezes lhe dei sua chance, mas ele nunca me tocou e eu balancei meu cabelo e ri e disse, Arturo, você não é homem, tem algo errado com você, porque você não é homem. Mas eu nem queria ele mesmo, nem liguei, eu queria esquecer Sammy, e tinha Arturo na cama e ele estava chorando, dizendo que não sabia mas que não conseguia, ele me amava tanto, ele me amava tanto. Eu ia para seu quarto no St. Paul Hotel, jogava pedrinhas na sua janela, e ele me puxava pra dentro, e eu ficava, porque sabia que ele não me tocaria, então eu o odiava porque ele ficava falando que eu deveria ter orgulho de ser mexicana, daí eu o desafiei a me tocar, levantei meu vestido e joguei em sua cara e ele sabia tanto e era tão esperto com as palavras, ele corou e disse por favor, não faça essas coisas, Camilla. E quando fomos na galeria de tiro na Main e atiramos em pombos de argila, quantos eu derrubei? Todos! Todinhos. E ele? Ele errou todos! Não acertou em um - mas Sammy não era assim, Sammy também derrubava todos. Nós passeávamos de noite, Arturo e eu. Passeando pela Terminal Island, por San Pedro, e eu gostava de umas coisas malucas, como montar em um caminhão de óleo, mas o Arturo subia? Não ele não subia, não ele dizia que era absurdo, era assim que ele dizia, mas o caminhoneiro não achava, não, o caminhoneiro riu, e eu deixei o Arturo lá e voltei com o caminhoneiro. Então ele aparecia no Liberty depois daquilo, choramingando pra me ver e me dando um poema mas ele me deixava tão furiosa porque ele não era como Sammy, mesmo que Sammy me batesse, mesmo que Sammy me chamasse de mexicanazinha. Mas às vezes ele era fofo, às vezes ele me dava flores, me deu uma flor de cada vez e dizia que eram camélias, como meu nome, então eu acho que aprendi algo com ele afinal de contas, porque não sabia que aquelas florzinhas brancas e cor-de-rosa tinham o mesmo nome que o meu. Mas eu nem ligava muito, elas não tinham metade do cheiro bom das gardênias."
E eu, Bandini, destruído e rastejando no pó, para morrer logo. Então escreva uma carta de suicídio, Bandini, escreva uma das boas - uma das longas para Camilla. E assim foi feito, uma longa carta de suicídio escrita com um coração partido, as lágrimas caindo entre as teclas através da longa noite em que escreveu, então ele dormiu em sua cadeira e rastejou até a cama, cansado demais para cometer suicídio. E de manhã, no café, leu sua carta de suicídio e rapaz, era doce! Oh rapaz tudo que ele precisava era um título e achou e despachou pelo correio e em alguns dias havia um cheque e um bilhete do editor da revista verde: "Caro Bandini - esse é um dos melhores textos que já lemos. Estamos contentes em tê-lo e esperamos que nos mande mais. O cheque está em anexo."
Bandini, grande humorista, correndo Angel's Flight abaixo para mostrar a história para Camilla: olha, é maravilhosa, muito engraçada. Uma nova face do meu talento: sou um humorista! E ela leu e riu, e ele morreu a morte que esqueceu de morrer naquele noite, pois esperava que ela visse a tragédia, mas não, até ela achava engraçado.
Pó em minha boca, pó em minha alma, tão longe dos empoeirados para o mar verdinho, com uma garota de vestido verde para Long Beach para um quartinho em Long Beach olhando o mar, e a noite toda uma garrafa de gim e a garota vestida de verde, chamando-a de Camilla por engano, até que ela gritasse; "Pára de me chamar de Camilla! Meu nome é Doris, não Camilla." Dormindo com a de verde, fingindo ser Camilla, aquela noite inteira e o dia inteiro perto do mar - 200 por outra história e terei minha Camilla do meu jeito, porque eu te fiz Camilla do meu jeito. Aquele dia inteiro e no fim da tarde uma paralisia de morte sobre a terra, um silêncio sussurrado de pó enfurecido e de repente o quarto está oscilando, a casa está desmoronando, as paredes rugem, o pó sobe, as mulheres gritam por todos os lados e quando chegamos à rua nenhum pássaro voa, não há crepúsculo naquela tarde de março, apenas pó do terremoto e no pó e nas ruínas os mortos espalhados e eu entrei em pânico, a terra convulsionando de ódio pelos meus pecados, porque a terra me odiava e a todos nós, os mortos debaixo de lençóis ensangüentados nos gramados, os pássaros sumidos, e pó sobre a terra. Então correndo para Los Angeles, esperando que ela esteja morta, esperando que Camilla esteja entre aqueles que voltaram ao pó.
Mas um grande homem deve perdoar, então o grande homem sentou em seu quarto e ponderou sobre a alma atormentada de seu amor e condenou-se por sua vergonha - ela não era mais culpada que qualquer boa garota americana seria por gritar sua aversão pela vulgaridade e brutalidade da lower Main Street. Uma carta de desculpas era necessária, a ser escrita com palavras bem escolhidas e em pena e tinta sobre papel branco e simples, assinado com todos os floreios de uma assinatura cuidadosamente praticada. Antes tarde do que nunca, uma carta cuidadosa não admitindo seu grande amor e terminando com "cordialmente".
Mais algumas noites e de novo o barulho das pedrinhas na minha janela e ela estava lá embaixo sorrindo, ela perdoou e esqueceu e para provar sua generosidade, dormiu comigo enquanto eu revirava e estremecia de desejo sem paixão.
Então os dias trouxeram a mudança de Camilla, a perda de suas carnes, os olhos enevoados, a lassidão, as mentiras, mentiras, mentiras. A noite em que apareceu com um olho roxo: um acidente de carro, ela disse. Então Sammy pegou tuberculose e teve que ir para o deserto e ela o seguiu até lá e ele a repeliu, disse para que ficasse longe dele, que queria ficar sozinho e morrer sozinho na cabana que construíra à beira do deserto.
Sammy, meu inimigo, ele também tornou-se escritor e ela trouxe suas débeis histórias estúpidas para mim, ¿porque você é esperto, Arturo, você pode ajudar Sammy a virar um escritor.¿ E eu li e ri da diversão que teria destruindo-as em pedacinhos e foi o que fiz: três histórias que ele mandou e frase por frase eu as destruí em pedacinhos, disse que ele deveria ter continuado sendo bartender, mas um grande homem deve ser amigo dos homens e animais, então rasguei as cartas e as reescrevi, fazendo meu melhor, dando o que achei que seriam conselhos, e ele começou a me escrever do deserto, aquele Sammy estúpido, mas no fundo ele era um cara legal, um insignificante de sangue frio, sempre referindo-se a ela como ¿a mexicanazinha¿, contando que ela era uma bela trepada e que seria minha se a tratasse direito. ¿Trate-a mal, Bandini, trate-a como se fosse sujeira debaixo de seus pés, como o pó na estrada, chute-a e ela se enroscará em volta do seu pau e morrerá lá.¿ E esse era o cara que Camilla amava - esse era meu rival.
Então porque não? Segui o conselho de Sammy. Ela veio uma noite e Bandini estava esperando. ¿Olá, sua imbecil, de qual beco você veio dessa vez?¿ Seus olhos se arregalaram, seus lábios sorriram e ela ficou estranhamente quieta enquanto Bandini continuava: Estou ocupado aqui; se você veio para tomar meu tempo, cai fora. E funcionou! Então entendi que ela não queria ser tratada como uma rainha, como um amor de verdade, como o sonho de Cabell de mulher perfeita. Ela estava acostumada com rudeza e tinha medo de admiração. E isso me enojou, me deixou doente, e eu a expulsei, levei-a até a porta pelo braço e disse para que fosse embora e nunca voltasse. Ela foi embora delirando de desejo, pronta para cair no pó sob meus pés. Deus, que lamentável Bandini naquela noite, sua rainha preferindo ser uma escrava.
Então a noite em que fumamos maconha. No chão, pés, fiquem no chão, meus pés, mas eles flutuaram e eu estava a um palmo do chão, dois palmos e não conseguia descer e ela era tão absurda, seu corpo era tão fantástico, sua beleza era algo para se rir - e essa foi a noite de paixão sem desejo e uma sedução de Baudelaire e DeQuincey. Mas acabou tudo para nós, ela foi embora e eu deitei na cama e meu corpo não descia, mas à medida que o efeito passava, minha cabeça doía um pouco e senti algo que não sentia desde a infância, a necessidade de confissão, de castigo, de punição, porque eu tinha estragado um sonho e quebrado uma lei de Deus e dos homens. Ainda meus pés flutuavam, ainda aquele sentimento de estar fora da terra, ansiando retornar, e peguei um jarro de água, quebrei no chão e caminhei sobre os estilhaços de vidro até que o êxtase do castigo desbotasse e fraquejasse e que eu parasse antes de tombar. Essa foi a noite em que manquei até uma igrejinha católica na quadra mexicana e passei longas horas sentado em silêncio, tentando reorganizar minha vida, fazendo planos e promessas de ser um homem melhor. Sempre um homem melhor, essa era a idéia com Arturo Bandini, ser um grande homem, acima do pó da estrada, amante dos homens e dos bichos. Não mais pecar.
Os dias passaram e eu trabalhei duro e como sempre acontece comigo, quando trabalho duro há sucesso. Chega de Camilla, fiquei longe e ela não voltou para jogar pedrinhas na minha janela. Três meses se passaram e a sorte e o trabalho uniram-se subitamente para mudar o curso das coisas e uma peça que escrevi foi comprada pelo cinema e eu ganhei quase $10,000.
Então o grande homem compra novos ternos e perfuma-se e em um luxuoso coche volta à cena de suas batalhas anteriores, para conversar naturalmente com Benny, o Mecânico e dar-lhe cinco dólares para seus filhos. "Lembranças a sua esposa, Benny. Diga que lembro bem dela." Visitar Marcus, insistindo que devo-lhe 10 pratas, ele insistindo que não, forçando-o a aceitar, repreendendo-o por sua memória ruim, contente em pagar 10 dólares por tal triunfo, um homem honesto, um grande homem, acertando velhas contas.
Então a última parada. Mas ela não está lá, outra garota está em seu lugar e o mundo está subitamente solitário e o sucesso de Bandini é vazio e incompleto. Mas ela tem que saber. Se ELA não souber, então não aconteceu. Mas todos estão taciturnos e ninguém sabe o que aconteceu a ela. Um suborno para a nova garçonete e consegui seu endereço. Eu vou até lá, conheço sua mãe - uma mulher como a minha mãe, doce mulher de coração partido vivendo em um barraco na quadra mexicana, mulher de rosto trágico dizendo-me que Camilla foi levada para Patton, o hospício. Choramos por isso e vou embora para Patton, mas eles não me deixam vê-la. Um mês depois ela é solta e vejo uma garota fantasma, terror em seus olhos e a solidão machucando. Queria uma coisa de mim - será que eu compraria um cachorro pra ela? E assim foi feito. Nós o chamamos Pancho e ela estava feliz com ele e nada mais, dormindo com ele, falando com ele, garota fantasma cuja fantasmice era uma doença e com o passar dos dias Pancho também virou um fantasma, um cão estranho com o olhar faminto e solitário como o de sua dona. Sempre ela chorava, sentávamos embaixo de um eucalipto em seu jardim e as lágrimas incontáveis caíam, Pancho uivava e seus olhos também pungiam, e eu soube que ela ainda amava Sammy. Então um dia chegou uma carta dele do deserto, queria que eu fosse lá e a pegasse e seu maldito cachorro, ela rodeava sua cabana como um mendigo pedindo migalhas de amor, ele não a suportava, que eu fosse lá buscá-la. Dirigi 100 milhas até lá. Ela se foi. Seu ford amarelo detonado, os pneus murchos, estava estacionado na estrada poeirenta em uma floresta. Onde estava ela? Sammy não sabia. Ele a mandara embora, jogara pedras no cachorro, ele estava cheio dela e não queria nem saber. E é isso, ninguém sabe. Seu carro ainda está lá, desnudado de pneus, tudo removível foi roubado. Ela se foi, engolida pelo deserto. Talvez alguém tenha a recolhido e levado de volta para o México. Talvez ela tenha voltado para Los Angeles e morrido em um quarto empoeirado. Tudo que sei é que ela se foi, o cachorro se foi, e não sobrou nada além da sua história que eu quero contar.
Tradução: Clarah Averbuck
29 July 2009
People keep telling me that I fall in love too easily- that I should protect my heart, that I shouldn’t wear my heart on my sleeve… I fall in love at least 20 times a day. I fall in love with the sky and the sun and the flowers and my children. I fall in love with smiles, with music on the radio and with french fries and Dr. Pepper. I fall in love with the sound of laughter, blue jeans, accents… Sometimes I fall in love with complete strangers, especially the ones holding hands and kissing in public. The ones who aren’t afraid to be in love with the idea of being in love either. I don’t mind the pain of unrequited love so much, because I think they’re wrong. Love looks good on me.
O Ventre Seco,
por Raduan Nassar.
Começo te dizendo que não tenho nada contra manipular, assim como não tenho nada contra ser manipulado; ser instrumento da vontade de terceiros é condição da existência, ninguém escapa a isso, e acho que as coisas, quando se passam desse jeito, se passam como não poderiam deixar de passar (a falta de recato não é minha, é da vida). Mas te advirto, Paula: a partir de agora, não conte mais comigo como tua ferramenta.
Você me deu muitas coisas, me cumulou de atenções (excedendo-se, por sinal), me ofereceu presentes, me entregou perdulariamente o teu corpo, tentou me arrastar pra lugares a que acabei não indo, e, não fosse minha feroz resistência, até pessoas das tuas relações você teria dividido comigo. Não quero discutir os motivos da tua generosidade, me limito a um formal agradecimento, recusando contudo, a todo risco, te fazer a credora que pode ainda chegar e me cobrar: "você não tem o direito de fazer isso". Fazer isso ou aquilo é problema meu, e não te devo explicações.
Nem foi preciso fazer um voto de pobreza, mas fiz há muito o voto de ignorância, e hoje, beirando os quarenta, estou fazendo também o meu voto de castidade. Você tem razão, Paula: não chego sequer a conservador, sou simplesmente um obscurantista. Mas deixe este obscurantista em paz, afinal, ele nunca se preocupou em fazer proselitismo.
E já que falo em proselitismo, devo te dizer também que não tenho nada contra esse feixe de reivindicações que você carrega, a tua questão feminista, essa outra do divórcio, e mais aquela do aborto, essas questões todas que "estão varrendo as bestas do caminho". E quando digo que não tenho nada contra, entenda bem, Paula, quero dizer simplesmente que não tenho nada a ver com tudo isso. Quer saber mais? Acho graça no ruído de jovens como você. Que tanto falam em liberdade? É preciso saber ouvir os gemidos da juventude: em geral, vocês reclamam é pela ausência de uma autoridade forte, mas eu, que nada tenho a impor, entenda isso, Paula, decididamente não quero te governar.
Sem suspeitar da tua precária superioridade, mais de uma vez você me atirou um desdenhoso "velho" na cara. Nunca te disse, te digo porém agora: me causa enjôo a juventude, me causa muito enjôo a tua juventude, será que preciso fazer um trejeito com a boca pra te dar a idéia clara do que estou dizendo? É bastante tranqüilo este depoimento, é sossegado, ao fazê-lo, me acredite, Paula, não me doem os cotovelos. Está muito certa aquela tua amiga frenética quando te diz que sou "incapaz de curtir gentes maravilhosas". Sou incapaz mesmo, não gosto de "gentes maravilhosas", não gosto de gente, para abreviar minhas preferências.
Você me levava a supor às vezes que o amor em nossos dias, a exemplo do bom senso em outros tempos, é a coisa mais bem dividida deste mundo. Aliás, só mesmo uma perfeita distribuição de afeto poderia explicar o arroubo corriqueiro a que todos se entregam com a simples menção deste sentimento. Um tanto constrangido por turvar a transparência dessa água, há muito que queria te dizer: vá que seja inquestionável, mas tenho todas as medidas cheias dos teus frívolos elogios do amor.
Farto também estou das tuas idéias claras e distintas a respeito de muitas outras coisas, e é só pra contrabalançar tua lucidez que confesso aqui minha confusão, mas não conclua daí qualquer sugestão de equilíbrio, menos ainda que eu esteja traindo uma suposta fé na "ordem", afinal, vai longe o tempo em que eu mesmo acreditava no propalado arranjo universal (que uns colocam no começo da história, e outros, como você, colocam no fim dela), e hoje, se ponho o olho fora da janela, além do incontido arroto, ainda fico espantado com este mundo simulado que não perde essa mania de fingir que está de pé.
Você pode continuar falando em nome da razão, Paula, embora até o obscurantista, que arranja (ironia!) essas idéias, saiba que a razão é muito mais humilde que certos racionalistas; você pode continuar carreando areia, pedra e tantas barras de ferro, Paula, embora qualquer criança também saiba que é sobre um chão movediço que você há de erguer teu edifício.
Pense uma vez sequer, Paula, na tua estranha atração por este "velho obscurantista", nos frêmitos roxos da tua carne, nessa tua obsessão pelo meu corpo, e, depois, nas prateleiras onde você arrumou com criterioso zelo todos os teus conceitos, encontre um lugar também para esta tua paixão, rejeitada na vida.
Sabe, Paula, ainda que sempre atenta à dobra mínima da minha língua, assim como ao movimento mais ínfimo do meu polegar, fazendo deste meu canto o ateliê do desenhista que ia no dia-a-dia emendando traço com traço, compondo, sem ser solicitada, o meu contorno, me mostrando no final o perfil de um moralista (que eu nunca soube se era agravo ou elogio), você deixou escapar a linha mestra que daria caráter ao teu rabisco. Estou falando de um risco tosco feito uma corda e que, embora invisível, é facilmente apreensível pelo lápis de alguns raros retratistas; estou falando da cicatriz sempre presente como estigma no rosto dos grandes indiferentes.
Não tente mais me contaminar com a tua febre, me inserir no teu contexto, me pregar tuas certezas, tuas convicções e outros remoinhos virulentos que te agitam a cabeça. Pouco se me dá, Paula, se mudam a mão de trânsito, as pedras do calçamento ou o nome da minha rua, afinal, já cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho, dou-lhe o meu silêncio.
No pardieiro que é este mundo, onde a sensibilidade, como de resto a consciência, não passa de uma insuspeitada degenerescência, certos espíritos só podiam mesmo se dar muito mal na vida; mas encontrei, Paula, esquivo, o meu abrigo: coração duro, homem maduro.
Não me telefone, não estacione mais o carro na porta do meu prédio, não mande terceiros me revelarem que você ainda existe, e nem tudo o mais que você faz de costume, pois recorrendo a esses expedientes você só consegue me aporrinhar. Versátil como você é, desempenhe mais este papel: o de mulher resignada que sai de vez do meu caminho.
Entenda, Paula: estou cansado, estou muito cansado, Paula, estou muito, mas muito, mas muito cansado, Paula. (Teu baby-doll, teus chinelos, tua escova de dentes, e outros apetrechos da tua toalete, deixei tudo numa sacola lá embaixo, é só mandar alguém pegar na portaria com o zelador.)
Ainda: "a velha aí do lado", a quem você se referia também como "a carcaça ressabiada", "o pacote de ossos", "a semente senil" e outras expressões exuberantes que o teu talento verbal sempre é capaz de forjar mesmo para falar das coisas mirradas da vida, nunca te revelei, Paula, te revelo agora: "aquele ventre seco" é minha mãe, faz anos que vivemos em kitchenettes separadas, ainda que ao lado uma da outra. Não seja tola, Paula, não estou te recriminando nada, sempre assisti com indiferença aos arremedos que você fazia da "bruxa velha, preparando a poção pra envenenar nossas relações". Te digo mais: você talvez tivesse razão, é provável que ela vivesse a espreitar minha porta das sombras da escadaria, é provável que ela do fundo dos corredores te olhasse "de um jeito maligno", é provável ainda que ela, matreira dentro do seu cubículo, te alcançasse todas as vezes que você saía através do olho mágico da sua porta. Mas contenha, Paula, a tua gula: você que, além de liberada e praticada, é também versada nas ciências ocultas dos tempos modernos, não vá lambuzar apressadamente o dedo na consciência das coisas; não fiz a revelação como quem te serve à mesa, não é um convite fecundo a interpretações que te faço, nem minha vida está pedindo esse desperdício. Quero antes lembrar o que minha mãe te dizia quando você, ao cruzar com ela, e "só pra tirar um sarro", perguntava maliciosamente por mim, te sugerindo eu agora a mesma prudência, se acaso amanhã teus amigos quiserem saber a meu respeito. Você pode dispensar "a ridícula solenidade da velha", mas não dispense o seu irrepreensível comedimento, responda como ela invariavelmente te respondia: "não conheço esse senhor".
Extraído do livro ""Menina a caminho", Companhia das Letras – São Paulo, 1997, pág. 61.
Começo te dizendo que não tenho nada contra manipular, assim como não tenho nada contra ser manipulado; ser instrumento da vontade de terceiros é condição da existência, ninguém escapa a isso, e acho que as coisas, quando se passam desse jeito, se passam como não poderiam deixar de passar (a falta de recato não é minha, é da vida). Mas te advirto, Paula: a partir de agora, não conte mais comigo como tua ferramenta.
Você me deu muitas coisas, me cumulou de atenções (excedendo-se, por sinal), me ofereceu presentes, me entregou perdulariamente o teu corpo, tentou me arrastar pra lugares a que acabei não indo, e, não fosse minha feroz resistência, até pessoas das tuas relações você teria dividido comigo. Não quero discutir os motivos da tua generosidade, me limito a um formal agradecimento, recusando contudo, a todo risco, te fazer a credora que pode ainda chegar e me cobrar: "você não tem o direito de fazer isso". Fazer isso ou aquilo é problema meu, e não te devo explicações.
Nem foi preciso fazer um voto de pobreza, mas fiz há muito o voto de ignorância, e hoje, beirando os quarenta, estou fazendo também o meu voto de castidade. Você tem razão, Paula: não chego sequer a conservador, sou simplesmente um obscurantista. Mas deixe este obscurantista em paz, afinal, ele nunca se preocupou em fazer proselitismo.
E já que falo em proselitismo, devo te dizer também que não tenho nada contra esse feixe de reivindicações que você carrega, a tua questão feminista, essa outra do divórcio, e mais aquela do aborto, essas questões todas que "estão varrendo as bestas do caminho". E quando digo que não tenho nada contra, entenda bem, Paula, quero dizer simplesmente que não tenho nada a ver com tudo isso. Quer saber mais? Acho graça no ruído de jovens como você. Que tanto falam em liberdade? É preciso saber ouvir os gemidos da juventude: em geral, vocês reclamam é pela ausência de uma autoridade forte, mas eu, que nada tenho a impor, entenda isso, Paula, decididamente não quero te governar.
Sem suspeitar da tua precária superioridade, mais de uma vez você me atirou um desdenhoso "velho" na cara. Nunca te disse, te digo porém agora: me causa enjôo a juventude, me causa muito enjôo a tua juventude, será que preciso fazer um trejeito com a boca pra te dar a idéia clara do que estou dizendo? É bastante tranqüilo este depoimento, é sossegado, ao fazê-lo, me acredite, Paula, não me doem os cotovelos. Está muito certa aquela tua amiga frenética quando te diz que sou "incapaz de curtir gentes maravilhosas". Sou incapaz mesmo, não gosto de "gentes maravilhosas", não gosto de gente, para abreviar minhas preferências.
Você me levava a supor às vezes que o amor em nossos dias, a exemplo do bom senso em outros tempos, é a coisa mais bem dividida deste mundo. Aliás, só mesmo uma perfeita distribuição de afeto poderia explicar o arroubo corriqueiro a que todos se entregam com a simples menção deste sentimento. Um tanto constrangido por turvar a transparência dessa água, há muito que queria te dizer: vá que seja inquestionável, mas tenho todas as medidas cheias dos teus frívolos elogios do amor.
Farto também estou das tuas idéias claras e distintas a respeito de muitas outras coisas, e é só pra contrabalançar tua lucidez que confesso aqui minha confusão, mas não conclua daí qualquer sugestão de equilíbrio, menos ainda que eu esteja traindo uma suposta fé na "ordem", afinal, vai longe o tempo em que eu mesmo acreditava no propalado arranjo universal (que uns colocam no começo da história, e outros, como você, colocam no fim dela), e hoje, se ponho o olho fora da janela, além do incontido arroto, ainda fico espantado com este mundo simulado que não perde essa mania de fingir que está de pé.
Você pode continuar falando em nome da razão, Paula, embora até o obscurantista, que arranja (ironia!) essas idéias, saiba que a razão é muito mais humilde que certos racionalistas; você pode continuar carreando areia, pedra e tantas barras de ferro, Paula, embora qualquer criança também saiba que é sobre um chão movediço que você há de erguer teu edifício.
Pense uma vez sequer, Paula, na tua estranha atração por este "velho obscurantista", nos frêmitos roxos da tua carne, nessa tua obsessão pelo meu corpo, e, depois, nas prateleiras onde você arrumou com criterioso zelo todos os teus conceitos, encontre um lugar também para esta tua paixão, rejeitada na vida.
Sabe, Paula, ainda que sempre atenta à dobra mínima da minha língua, assim como ao movimento mais ínfimo do meu polegar, fazendo deste meu canto o ateliê do desenhista que ia no dia-a-dia emendando traço com traço, compondo, sem ser solicitada, o meu contorno, me mostrando no final o perfil de um moralista (que eu nunca soube se era agravo ou elogio), você deixou escapar a linha mestra que daria caráter ao teu rabisco. Estou falando de um risco tosco feito uma corda e que, embora invisível, é facilmente apreensível pelo lápis de alguns raros retratistas; estou falando da cicatriz sempre presente como estigma no rosto dos grandes indiferentes.
Não tente mais me contaminar com a tua febre, me inserir no teu contexto, me pregar tuas certezas, tuas convicções e outros remoinhos virulentos que te agitam a cabeça. Pouco se me dá, Paula, se mudam a mão de trânsito, as pedras do calçamento ou o nome da minha rua, afinal, já cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho, dou-lhe o meu silêncio.
No pardieiro que é este mundo, onde a sensibilidade, como de resto a consciência, não passa de uma insuspeitada degenerescência, certos espíritos só podiam mesmo se dar muito mal na vida; mas encontrei, Paula, esquivo, o meu abrigo: coração duro, homem maduro.
Não me telefone, não estacione mais o carro na porta do meu prédio, não mande terceiros me revelarem que você ainda existe, e nem tudo o mais que você faz de costume, pois recorrendo a esses expedientes você só consegue me aporrinhar. Versátil como você é, desempenhe mais este papel: o de mulher resignada que sai de vez do meu caminho.
Entenda, Paula: estou cansado, estou muito cansado, Paula, estou muito, mas muito, mas muito cansado, Paula. (Teu baby-doll, teus chinelos, tua escova de dentes, e outros apetrechos da tua toalete, deixei tudo numa sacola lá embaixo, é só mandar alguém pegar na portaria com o zelador.)
Ainda: "a velha aí do lado", a quem você se referia também como "a carcaça ressabiada", "o pacote de ossos", "a semente senil" e outras expressões exuberantes que o teu talento verbal sempre é capaz de forjar mesmo para falar das coisas mirradas da vida, nunca te revelei, Paula, te revelo agora: "aquele ventre seco" é minha mãe, faz anos que vivemos em kitchenettes separadas, ainda que ao lado uma da outra. Não seja tola, Paula, não estou te recriminando nada, sempre assisti com indiferença aos arremedos que você fazia da "bruxa velha, preparando a poção pra envenenar nossas relações". Te digo mais: você talvez tivesse razão, é provável que ela vivesse a espreitar minha porta das sombras da escadaria, é provável que ela do fundo dos corredores te olhasse "de um jeito maligno", é provável ainda que ela, matreira dentro do seu cubículo, te alcançasse todas as vezes que você saía através do olho mágico da sua porta. Mas contenha, Paula, a tua gula: você que, além de liberada e praticada, é também versada nas ciências ocultas dos tempos modernos, não vá lambuzar apressadamente o dedo na consciência das coisas; não fiz a revelação como quem te serve à mesa, não é um convite fecundo a interpretações que te faço, nem minha vida está pedindo esse desperdício. Quero antes lembrar o que minha mãe te dizia quando você, ao cruzar com ela, e "só pra tirar um sarro", perguntava maliciosamente por mim, te sugerindo eu agora a mesma prudência, se acaso amanhã teus amigos quiserem saber a meu respeito. Você pode dispensar "a ridícula solenidade da velha", mas não dispense o seu irrepreensível comedimento, responda como ela invariavelmente te respondia: "não conheço esse senhor".
Extraído do livro ""Menina a caminho", Companhia das Letras – São Paulo, 1997, pág. 61.
02 July 2009
Posso olhar pela fresta da janela que o que vejo não ainda será meu mundo. Meu é apenas o sentido de infinito que dou a isso, e com minhas palavras tenho assim meu próprio universo, minhas convenções.
Teu signo é vazio, sem sentindo. Não existe problema algum em nossa metafísica, em nossos mundos paralelos, mas os criamos e não suportamos a escuridão das noites e nem a liberdade do mar aberto a nossa frente. Nunca queremos estar sujeitos às tempestades.
O direito de sonhar e resistir é roubado de nós em nosso próprio cotidiano. Somos conscientes que a luz não nos pertence.
Não abandone sua essência, mas compreenda ser um humano no mundo, já que não possuímos o poder da verdade. Poderia caminhar sobre o abismo sem medo da dúvida e da confusão. Não vejo o mundo de forma límpida e não vejo a essência da verdade, caso ela exista. Só estou interpretando tudo, o sentido, a subjetividade.
Minha crítica é mercadoria, então o que eu ainda poderia ser?
Mercadoria disciplinada...
Teu signo é vazio, sem sentindo. Não existe problema algum em nossa metafísica, em nossos mundos paralelos, mas os criamos e não suportamos a escuridão das noites e nem a liberdade do mar aberto a nossa frente. Nunca queremos estar sujeitos às tempestades.
O direito de sonhar e resistir é roubado de nós em nosso próprio cotidiano. Somos conscientes que a luz não nos pertence.
Não abandone sua essência, mas compreenda ser um humano no mundo, já que não possuímos o poder da verdade. Poderia caminhar sobre o abismo sem medo da dúvida e da confusão. Não vejo o mundo de forma límpida e não vejo a essência da verdade, caso ela exista. Só estou interpretando tudo, o sentido, a subjetividade.
Minha crítica é mercadoria, então o que eu ainda poderia ser?
Mercadoria disciplinada...
29 June 2009
26 June 2009
"Clementine: Joely?
Joel: Yeah Tangerine?
Clementine: Am I ugly?
Joel: Uh-uh.
Clementine: When I was a kid, I thought I was. I can't believe I'm crying already. Sometimes I think people don't understand how lonely it is to be a kid, like you don't matter. So, I'm eight, and I have these toys, these dolls. My favorite is this ugly girl doll who I call Clementine, and I keep yelling at her, "You can't be ugly! Be pretty!" It's weird, like if I can transform her, I would magically change, too.
Joel: [kisses Clementine] You're pretty.
Clementine: Joely, don't ever leave me.
Joel: You're pretty... you're pretty... pretty..."
Joel: Yeah Tangerine?
Clementine: Am I ugly?
Joel: Uh-uh.
Clementine: When I was a kid, I thought I was. I can't believe I'm crying already. Sometimes I think people don't understand how lonely it is to be a kid, like you don't matter. So, I'm eight, and I have these toys, these dolls. My favorite is this ugly girl doll who I call Clementine, and I keep yelling at her, "You can't be ugly! Be pretty!" It's weird, like if I can transform her, I would magically change, too.
Joel: [kisses Clementine] You're pretty.
Clementine: Joely, don't ever leave me.
Joel: You're pretty... you're pretty... pretty..."
24 June 2009
Carta nº X
Querido,
Já faz tempo que não te escrevo, não!, digo, realmente, escrever.
É que por aqui as coisas são sempre as mesmas, você sabe, ou talvez não. Espero que esta te alcance, pois sei que não é de seu hábito manter longa estadia em lugar algum.
Você está longe, mas ainda é o seu sorriso que inspira minhas noites insones. Sete, uma para cada dia da semana, para cada uma das tuas cores que estão todas dentro de mim. Minha voz já não é a mesma, você não a reconheceria se pudesse escutar, às vezes penso que todos os meus sonhos não passaram de enganos, e às vezes, mas só às vezes, tenho vontade de me enterrar num trivial sem futilidades.
Por onde correm teus olhos nestes dias tão longos? Vê que já não conto o tempo, nem preciso fazê-lo para saber que se arrasta. Meu tempo sempre se arrasta e me dá a impressão de viver o mesmo tempo desde o início da consciência. Mas os instantes são breves, não é? Embora os dias sejam lentos, seus instantes são breves.
Tenho pena, tanta pena dos olhares jovens que encontro! Porque os jovens são facilmente explorados...Todos os jovens podiam ser artistas de nada. E eu arrasto rugas que o tempo ainda não me deu, tenho os ombros corcundas de carregar o marasmo.
Queria te ver. Já nem sei o que é do teu rosto sempre tão turvo, e me esqueço em teus dedos inábeis para o destino. Ou me engano, acaso não é você meu destino, vai ver destino é apenas mais uma distância, nota que as duas coisas se parecem, "todas as coisas se parecem", você dirá sem se parecer com nada.
Cruel você, mas eu também o sou. Estou só desde o primeiro dia em cheguei acompanhada de uma paixão que me tomou, me sufocou, dizimou e se mostrou não pertencer a mim.
Sabe, pouco me aguento em cronologias, há um monte de complexos no meu colchão, talvez devesse trocá-los por um livro que os pudesse explicar, que acha?
Quero olhos nas minhas paredes, no meu espelho, mas que olhos me quereriam avistar? Tenho saudades que só se entendem em linhas de poesia e em mudas canções inacabadas. Existem coisas em mim que só se resumem na falta de. Parece bobagem, mas a distância percorrida pelos pés me assusta, tenho vergonha deles. Dos meus e dos seus.
Estou cansada de sentir medo, vergonha. Vai saber o dia não se resolve apático.
M.
Já faz tempo que não te escrevo, não!, digo, realmente, escrever.
É que por aqui as coisas são sempre as mesmas, você sabe, ou talvez não. Espero que esta te alcance, pois sei que não é de seu hábito manter longa estadia em lugar algum.
Você está longe, mas ainda é o seu sorriso que inspira minhas noites insones. Sete, uma para cada dia da semana, para cada uma das tuas cores que estão todas dentro de mim. Minha voz já não é a mesma, você não a reconheceria se pudesse escutar, às vezes penso que todos os meus sonhos não passaram de enganos, e às vezes, mas só às vezes, tenho vontade de me enterrar num trivial sem futilidades.
Por onde correm teus olhos nestes dias tão longos? Vê que já não conto o tempo, nem preciso fazê-lo para saber que se arrasta. Meu tempo sempre se arrasta e me dá a impressão de viver o mesmo tempo desde o início da consciência. Mas os instantes são breves, não é? Embora os dias sejam lentos, seus instantes são breves.
Tenho pena, tanta pena dos olhares jovens que encontro! Porque os jovens são facilmente explorados...Todos os jovens podiam ser artistas de nada. E eu arrasto rugas que o tempo ainda não me deu, tenho os ombros corcundas de carregar o marasmo.
Queria te ver. Já nem sei o que é do teu rosto sempre tão turvo, e me esqueço em teus dedos inábeis para o destino. Ou me engano, acaso não é você meu destino, vai ver destino é apenas mais uma distância, nota que as duas coisas se parecem, "todas as coisas se parecem", você dirá sem se parecer com nada.
Cruel você, mas eu também o sou. Estou só desde o primeiro dia em cheguei acompanhada de uma paixão que me tomou, me sufocou, dizimou e se mostrou não pertencer a mim.
Sabe, pouco me aguento em cronologias, há um monte de complexos no meu colchão, talvez devesse trocá-los por um livro que os pudesse explicar, que acha?
Quero olhos nas minhas paredes, no meu espelho, mas que olhos me quereriam avistar? Tenho saudades que só se entendem em linhas de poesia e em mudas canções inacabadas. Existem coisas em mim que só se resumem na falta de. Parece bobagem, mas a distância percorrida pelos pés me assusta, tenho vergonha deles. Dos meus e dos seus.
Estou cansada de sentir medo, vergonha. Vai saber o dia não se resolve apático.
M.
22 June 2009
17 June 2009
"Dunce"
Acho que eu ainda penso muito naquilo.
Ainda sinto muita falta do 'se'. Se a gente não tivesse dito adeus aquele dia. Se não houvesse tanto medo e tanto peso para carregar.
Nos vários talvez.
No que não foi dito. Ou o que foi dito demais.
Estava lembrando das madrugadas. Acho que era muito mais frias que qualquer outras que me lembre, ou talvez seja o eco do que sentia que me faz lembrar delas assim, glaciais.
De quando joguei tudo pro alto e fui. E quando você fugiu e se arrependeu.
E falou que você era exatamente como a música.
É, eu ainda penso demais nisso.
Dunce
Voltaire
I break the silence with my voice
and everyone turns around
to see the source of all the noise
and here i stand
its not as thought i mean to upset you
with the things i say and do
i should know better but i said so anyway
its easier to play a part
and read your lines
than freely speak what's
in your heart and in your mind
Is it me?
who says these things that so offend you?
Innapropriate and loud
i'd say I'm sorry
but it's hard to speak
with both feet in your mouth
all hail the king of dunces
You best hold on
I'm opening up my mouth
bring out the maypole
and tie up and shut me out
devil knows what possessed me
to shoot my arrow straight into the sky
string me to the mast and
hoist me up and hang me high
i put no blame on you
i brought this all upon myself
it's just this thing i do
at times like this
i wish i was someone else
there's a lever inside head
between my mouth and my brain
keeps me from hearing
what i've said until its too late
now it's too late
smear my lips with vaseline
because i'm a vocal libertine
I try to explain but even
i'm not quite sure what i mean
all hail the king of dunces
You best hold on
I'm opening up my mouth
bring out the maypole
and tie up and shut me out
devil knows what possessed me
to shoot my arrow straight into the sky
string me to the mast and
hoist me up and hang me high
i put no blame on you
i brought this all upon myself
it's just this thing i do
at times like this
i wish i was someone else
I don't know what to say
i was only trying to make you smile
and bring some needed levity
to your world for a while
i never meant to make you cry
but i did it all by myself
its just this thing i do
at times like this
i wish i was someone else
All hail the king of dunces...
All hail the king of fools
This boy's been bad
let's keep him after school
send me to the blackboard
and write a hundred times "i am the dunce"
devil knows what possessed me
to shut my mind and open up my mouth
string me to the anchor
and watch me drown in myself
Ainda sinto muita falta do 'se'. Se a gente não tivesse dito adeus aquele dia. Se não houvesse tanto medo e tanto peso para carregar.
Nos vários talvez.
No que não foi dito. Ou o que foi dito demais.
Estava lembrando das madrugadas. Acho que era muito mais frias que qualquer outras que me lembre, ou talvez seja o eco do que sentia que me faz lembrar delas assim, glaciais.
De quando joguei tudo pro alto e fui. E quando você fugiu e se arrependeu.
E falou que você era exatamente como a música.
É, eu ainda penso demais nisso.
Dunce
Voltaire
I break the silence with my voice
and everyone turns around
to see the source of all the noise
and here i stand
its not as thought i mean to upset you
with the things i say and do
i should know better but i said so anyway
its easier to play a part
and read your lines
than freely speak what's
in your heart and in your mind
Is it me?
who says these things that so offend you?
Innapropriate and loud
i'd say I'm sorry
but it's hard to speak
with both feet in your mouth
all hail the king of dunces
You best hold on
I'm opening up my mouth
bring out the maypole
and tie up and shut me out
devil knows what possessed me
to shoot my arrow straight into the sky
string me to the mast and
hoist me up and hang me high
i put no blame on you
i brought this all upon myself
it's just this thing i do
at times like this
i wish i was someone else
there's a lever inside head
between my mouth and my brain
keeps me from hearing
what i've said until its too late
now it's too late
smear my lips with vaseline
because i'm a vocal libertine
I try to explain but even
i'm not quite sure what i mean
all hail the king of dunces
You best hold on
I'm opening up my mouth
bring out the maypole
and tie up and shut me out
devil knows what possessed me
to shoot my arrow straight into the sky
string me to the mast and
hoist me up and hang me high
i put no blame on you
i brought this all upon myself
it's just this thing i do
at times like this
i wish i was someone else
I don't know what to say
i was only trying to make you smile
and bring some needed levity
to your world for a while
i never meant to make you cry
but i did it all by myself
its just this thing i do
at times like this
i wish i was someone else
All hail the king of dunces...
All hail the king of fools
This boy's been bad
let's keep him after school
send me to the blackboard
and write a hundred times "i am the dunce"
devil knows what possessed me
to shut my mind and open up my mouth
string me to the anchor
and watch me drown in myself
Algumas músicas, e cd's inteiros, eu costumo associar a livros que estou lendo. Untouchables, do Korn, é um desses casos. Quando foi lançado fiquei escutando milhões de vezes enquanto lia os dois volumes do "A Hora das Bruxas", Anne Rice. Hoje quando escuto alguma música desse cd não tem como não lembrar da história.
Se não me engano esse livro não é mais editado. Uma das loucuras da autora depois de virar protestante foi não editar mais os livros dos quais ela detinha o direito (Anne Rice hoje em dia escreve sobre Jesus Cristo ao invés de seus clássicos vampiros e outros seres míticos) e aparentemente o A Hora das Bruxas é um desses livros...
Mas se quiser dá uma olhada: http://maisbook.blogspot.com/2008/09/hora-das-bruxas-volume-i-ii-anne-rice.html
Aliás, para quem gosta de Korn, o Untouchables é um dos últimos cd's que eles lançaram que eu gosto, e que vale a pena escutar inteiro.
Hollow Life
Korn
Beating the fall
I can’t help but desire of falling down this time
Deep in this hole of my making I can't escape
Falling all this time
We come to this place
Falling through time
Living a hollow life
Always we're taking
Waiting for signs
Hollow lives...
Fearing to fall and
Still the ground below me calls
Falling down this time
Ripping apart all
These things I have tried to stop
Falling all this time
We come to this place
Falling through time
Living a hollow life
Always we're taking
Waiting for signs
Hollow lives...
Is there ever any wonder why we look to the sky?
Search in vane?
Asking why?
All alone?
Where is God?
Looking down?
We don’t know?
We fall in space,
We can't look down,
Death may come
Peace I have found
What to say?
Am I alive,
Am I asleep?
Am for I died
(Wanting Peace)
We fall in space
(Wanting Peace)
We can't look down,
Death may come,
(Something takes a hold of me)
Peace I have found
(Something takes a hold of me)
I want to say my whole life,
Am I asleep?
We fall down.
We come to this place
Falling through time,
Living a hollow life,
Always we're taking
Waiting for signs,
Hollow lives...
Is there ever any wonder why we look to the sky?
Search in vane?
Asking why?
All alone?
Where is God?
Looking down?
We don’t know?
We fall in space
We can't look down
Death may come.
Peace I have found
Se não me engano esse livro não é mais editado. Uma das loucuras da autora depois de virar protestante foi não editar mais os livros dos quais ela detinha o direito (Anne Rice hoje em dia escreve sobre Jesus Cristo ao invés de seus clássicos vampiros e outros seres míticos) e aparentemente o A Hora das Bruxas é um desses livros...
Mas se quiser dá uma olhada: http://maisbook.blogspot.com/2008/09/hora-das-bruxas-volume-i-ii-anne-rice.html
Aliás, para quem gosta de Korn, o Untouchables é um dos últimos cd's que eles lançaram que eu gosto, e que vale a pena escutar inteiro.
Hollow Life
Korn
Beating the fall
I can’t help but desire of falling down this time
Deep in this hole of my making I can't escape
Falling all this time
We come to this place
Falling through time
Living a hollow life
Always we're taking
Waiting for signs
Hollow lives...
Fearing to fall and
Still the ground below me calls
Falling down this time
Ripping apart all
These things I have tried to stop
Falling all this time
We come to this place
Falling through time
Living a hollow life
Always we're taking
Waiting for signs
Hollow lives...
Is there ever any wonder why we look to the sky?
Search in vane?
Asking why?
All alone?
Where is God?
Looking down?
We don’t know?
We fall in space,
We can't look down,
Death may come
Peace I have found
What to say?
Am I alive,
Am I asleep?
Am for I died
(Wanting Peace)
We fall in space
(Wanting Peace)
We can't look down,
Death may come,
(Something takes a hold of me)
Peace I have found
(Something takes a hold of me)
I want to say my whole life,
Am I asleep?
We fall down.
We come to this place
Falling through time,
Living a hollow life,
Always we're taking
Waiting for signs,
Hollow lives...
Is there ever any wonder why we look to the sky?
Search in vane?
Asking why?
All alone?
Where is God?
Looking down?
We don’t know?
We fall in space
We can't look down
Death may come.
Peace I have found
25 May 2009
07 May 2009
29 April 2009
22 April 2009
Lenine me deixa nostálgica. Muito.
Distantes Demais
Lenine
Somos somente a fotografia.
Dois navegantes perdidos no cais
Distantes demais.
Somos instantes, palavras, poesia
Dois delirantes ficando reais
Distantes demais
Noites de sol, loucos de amar,
Quem poderia nos alcançar.
Eu e você, sem perceber,
Fomos ficando iguais,
Longe,
Distantes demais
Distantes Demais
Lenine
Somos somente a fotografia.
Dois navegantes perdidos no cais
Distantes demais.
Somos instantes, palavras, poesia
Dois delirantes ficando reais
Distantes demais
Noites de sol, loucos de amar,
Quem poderia nos alcançar.
Eu e você, sem perceber,
Fomos ficando iguais,
Longe,
Distantes demais
14 April 2009
16 March 2009
05 March 2009
11 February 2009
Meu novo vício: http://blip.fm/aggressive ^_^
Muito bom poder fazer uma playlist sem precisar dar upload e ficar horas procurando músicas. Apesar de não achar 100¢ do que gostaria de escutar por lá, acho pelo menos uns 80¢, o que já acho muito bom.
Incrível como coisas bobas como música, ou compras, me deixam TÃO bem e relaxada. Diria até feliz.
Muito bom poder fazer uma playlist sem precisar dar upload e ficar horas procurando músicas. Apesar de não achar 100¢ do que gostaria de escutar por lá, acho pelo menos uns 80¢, o que já acho muito bom.
Incrível como coisas bobas como música, ou compras, me deixam TÃO bem e relaxada. Diria até feliz.
30 January 2009
Almost Blue com Chet Baker me faz querer ser outra pessoa em outro lugar.
Arrepios.
A música mais linda que já escutei.
Almost blue
Almost doing things we used to do
There's a girl here and she's almost you
Almost
All the things that your eyes once promised
I see in hers too
Now your eyes are red from crying
Almost blue
Flirting with this disaster became me
It named me as the fool who only aimed to be
Almost blue
It's almost touching it will almost do
There's a part of me that's always true... always
Not all good things come to an end now, it is only a chosen few
I have seen such an unhappy couple
Almost me
Almost you
Almost blue
Arrepios.
A música mais linda que já escutei.
Almost blue
Almost doing things we used to do
There's a girl here and she's almost you
Almost
All the things that your eyes once promised
I see in hers too
Now your eyes are red from crying
Almost blue
Flirting with this disaster became me
It named me as the fool who only aimed to be
Almost blue
It's almost touching it will almost do
There's a part of me that's always true... always
Not all good things come to an end now, it is only a chosen few
I have seen such an unhappy couple
Almost me
Almost you
Almost blue